Cultura

Fio de água

Fio de água
Evelyn Kahn

Uma exposição de fotografia, em que a água é tema e fio condutor para uma viagem por várias paisagens poéticas. O olhar de Evelyn Kahn, numa mostra em que vibração e nostalgia se mesclam

Fio de água

Katya Delimbeuf

Jornalista

No trabalho de Evelyn Kahn, Portuguesa filha de pais alemães, um elemento perpassa, com insistência. Muitas das suas fotografias parecem quadros. Já o era assim, quando em 2010 apresentou a sua primeira exposição na Galeria Giefarte. Aí, 'close-ups' de carros velhos em sucatas e outros pormenores formavam quadros enormes que eram, afinal, fotografias e não pinturas, como pareciam. Hoje, nesta segunda exposição, muito diferente, composta por 18 fotografias (edições limitadas de 5 fotografias, impressas em papel algodão Fine Art), há imagens que nos remetem de novo para a pintura, por vezes impressionista, de um Monet ou Manet.

Paisagens impressionistas, criadas graças aos efeitos da água
Evelyn Khan

O fio condutor é a água, nas suas várias formas. Ela vê-se nas poças que refletem gente segura e apressada em Hamburgo; nas janelas de paisagens desfocadas pelas gotas de chuva, em Lisboa; nos "quadros impressionistas" gerados pela imensa fachada de vidro onde escorre água em permanência, do Museu de Arte Moderna de Melbourne; num passadiço de madeira no lago Plitvite, na Croácia, onde tudo é luz; ou no pormenor de um aquário gigante em Buenos Aires, que mais parece um copo de cocktail, com luzes azuis a flutuar como pedras de gelo.

Poças com gente dentro, pelo olhar de Evelyn Kahn
Evelyn Kahn

A viagem e os detalhes são duas constantes no trabalho de Evelyn, que só começou a fotografar profissionlamente há 16 anos, apesar deste ser um gosto antigo. A viagem inspira-a, obriga-a a sair de si, olhar de outro modo. A câmara fotográfica acompanha-a para todo o lado. Tornou-se "uma extensão de mim", assegura. Os "blues" que dão nome à exposição contrastam com a força e a alegria que caracteriza Evelyn- que contudo, carrega consigo pesos antigos. A família materna terminou os dias num campo de concentração nazi, como Alemães judeus que eram, e essa tristeza passou nos genes, através das gerações. Com outro projeto em curso, resultado de meses de acompanhamento da Companhia Olga Roriz, num registo totalmente diferente, Evelyn Kahn continua a dar-nos a sensibilidade do seu olhar através da câmara.

Até 5 de novembro, na Pequena Galeria (Av. 24 de Julho, nº 4, Lisboa)

A fotógrafa Evelyn Kahn, Portuguesa filha de pais alemãs

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