Reino Unido e Holanda pareciam na dianteira quanto a medidas diferenciadas para fazer face à propagação do coronavírus, mas o guião tem mudado, nomeadamente na terra de Boris Johnson, onde já se exige aos britânicos quarentena e fecharam escolas e outros espaços. Agora é a Suécia que segura a bandeira das abordagens diferentes: “Uma experiência enorme”, reconheceu um especialista em saúde ao “Financial Times” (FT), onde a história está publicada.
Este país escandinavo, donde são Alfred Nobel, Tomas Brolin e Greta Thumberg, é agora o maior país europeu com as restrições mais suaves, conta o jornal britânico. Resumindo: as escolas com alunos até aos 16 anos continuam abertas, muitos suecos continuam a ir trabalhar normalmente, enchendo carruagens de comboios e autocarros, embora tenha havido recomendações para, se possível, trabalharem de casa.
Apesar desta aparente liberdade de movimentos, o Governo sueco proibiu encontros, reuniões ou eventos com mais de 500 pessoas, algo que se foi verificando pela Europa, com o número a encolher gradualmente. Mais: as universidades e escolas secundárias também estão encerradas. Quanto a bares e restaurantes, o “FT” dá conta de que há ordens para serem servidas apenas as pessoas que estão sentadas numa mesa, desencorajando aqueles que se amontoam no bar.
“Há o grande risco de a Suécia ir para quarentena quando o sistema de saúde entrar em crise”, alertou ao mesmo jornal Joacim Rocklov, um epidemiologista da Universidade de Umea.
O chefe da Agência de Saúde Pública sueca, Johan Carlson, aprecia a maneira como a Suécia está a atacar o vírus e o que traz o vírus. Ou seja, o país “não pode tomar medidas draconianas que têm um impacto limitado na epidemia, a não ser quebrar as funções da sociedade”. Carlson admite ainda que, caso os serviços de saúde entrem em colapso, o número de mortes na Suécia - 90 mil por ano - deverá “aumentar significativamente”.
Um dos argumentos para manter-se as escolas abertas é o facto de os jovens revelarem poucas infeções ou poucos problemas quando enfrentam a covid-19, mas há sempre o outro lado: os suecos poderão estar a subestimar a capacidade de transmissão para familiares e não só, ainda por cima quando há inúmeros casos relatados de infetados que não revelam sintomas.
“Eu não vejo em que é que a Suécia seria diferente dos outros países”, avisa Rocklov. “É uma experiência enorme. Não sabemos, pode funcionar. Mas pode também ir loucamente na direção errada”.
A Suécia segue assim na direção que chegou a ser defendida no Reino Unido: a “herd-immunity” (imunidade em grupo), em que se prevê a infeção de uma larga percentagem da população para inibir teoricamente a propagação das cadeias de transmissão nas comunidades.
O Expresso já tinha escrito sobre esta opção (AQUI): “A Suécia é outro país que decidiu – na região de Estocolmo, epicentro nacional da crise, mas sucessivamente adotado pelas demais regiões – abandonar o teste sistemático. Uma vez confirmada a transmissão comunitária (propagação do vírus no país), as autoridades de saúde passaram a dar prioridade à proteção de grupos de risco, como idosos, hospitalizados ou pessoas com outras doenças, além do pessoal de saúde. Só esses serão testados”.
De acordo com o Instituto Johns Hopkins, a Suécia já superou os 2.500 casos confirmados, com 62 mortes e 16 recuperações.
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