Fumadores
"Os fumadores tendem a ter algum tipo de disfunção respiratória. Pelo facto de o serem, podem ter algumas lesões no pulmão, alguma menor capacidade respiratória. Portanto, devem resguardar-se de forma mais significativa da exposição aos agentes e ter mais cautela, à semelhança do que acontece com outros grupos de risco. Confesso que, do ponto de vista da severidade, ainda não tenho dados muito objetivos de que os fumadores tenham um risco maior mas admito que sim, tendo em conta que têm algumas disfunções na sua capacidade respiratória."
Lentes de contacto
"A grande questão que, à partida, se levanta é que tocar nas mucosas dos olhos, do nariz ou da boca é uma das vias de transmissão se tivermos o vírus nas mãos. A manipulação que temos de fazer das lentes que tocam diretamente na mucosa é diferente do que acontece com os óculos. Poderá haver um risco maior com as lentes mas dependerá da tal contaminação das mãos. Temos de as lavar muito frequentemente. A recomendação é que as pessoas que usam lentes de contacto sejam agora bastante exigentes com a higienização das mãos por forma a reduzir o risco de transmissão por essa via."
Animais domésticos
"Objetivamente não há evidência, até ver, da transmissão da doença pelos animais domésticos. O que aconteceu na altura foi a transmissão de um reservatório, que acreditamos ser um morcego, e terá havido um intermediário (um mamífero) que transmitiu aos humanos. Mas entretanto as cadeias de transmissão que se geraram foram quase todas por via do contacto direto entre humanos, pessoa a pessoa. Há um estudo que aponta a identificação de um sinal fraco num cão mas, tanto quanto nos foi dado a perceber, o cão não estava doente nem é claro que o cão pudesse transmitir a doença. O que se pode ter verificado é que, como era o cão de um doente, o cão poderá pura e simplesmente ter interagido com o dono, lambido o dono, e ter o vírus na boca. O que é importante, independentemente do coronavírus, é que as pessoas, depois de interagirem com os animais, higienizem adequadamente as suas mãos de forma a que não haja transmissão desta ou de outras potenciais doenças. Mas não há, friso, evidência de transmissão através dos animais domésticos. Quanto às patas dos animais depois de irem à rua, não conheço casos de transmissão. Pode eventualmente ser um cuidado a ter no que toca à higienização das patas. Como hipótese parece-me que se pode reforçar as medidas de higiene."
Sapatos e roupa
"É importante destrinçar entre quem tem uma exposição de risco – é o caso dos profissionais de saúde que trabalham diretamente com doentes – e quem tem uma exposição ambiental no seu trajeto entre a casa e o trabalho e noutras deslocações que tenha de fazer. Apesar de tudo, não é exatamente a mesma coisa. Convém ter alguns cuidados adicionais, por exemplo, deixar os sapatos no hall de entrada ou numa zona mais longe do espaço em que a pessoa circula habitualmente dentro de casa. É uma medida interessante. Em relação à roupa, há novamente uma diferença entre quem tem uma exposição relevante e quem tem uma exposição ambiental. Diria que não é preciso lavar a roupa todas as vezes que se saia, a menos que se tenha uma exposição que a pessoa consiga perceber como tendo sido de elevado risco. Mas pode aumentar-se a regularidade com que se lava a roupa e usando temperaturas mais altas de forma a inativar o vírus."
Produtos alimentares e outros
"Podemos ter cautelas adicionais. Na prática, há dois tipos de produtos que compramos. Aqueles que vamos consumir diretamente e estes devem ser higienizados mas devem sê-lo por todas as razões que já existiam ainda antes do surto. As frutas, os legumes, os produtos frescos que estão expostos ao ambiente devem ser higienizados antes de serem consumidos. Em relação aos restantes produtos, mais uma vez, há a questão do reforço da higiene das mãos. Uma via pela qual podemos contrair o Covid-19 é o contacto com superfícies contaminadas. Se as pessoas entenderem que devem higienizar os produtos que adquirem, naturalmente não é uma coisa negativa. Neste momento, não está recomendado que isso seja feito de forma massificada. O que se recomenda é que as pessoas tenham particular cuidado com a higiene das mãos depois de manipularem superfícies potencialmente contaminadas."
A ANMSP lançou no sábado a campanha #EuFicoEmCasa. Em instagram.com/saudepublica_pt, tem acesso a materiais gráficos, conselhos e recomendações.
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