Carta Elétrica

“Há muito mais abertura da parte das empresas para comprar elétricos ou híbridos”

Na terceira e última conferência do projeto Carta Elétrica, uma iniciava que junta o Expresso e a EDP, debateu-se a relevância das empresas no processo de transição energética e de eletrificação

“Há muito mais abertura da parte das empresas para comprar elétricos ou híbridos”

Ana Baptista

Jornalista

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Os entraves e os desafios da reconversão das frotas das empresas e dos transportes públicos foi o tema mais discutido no debate de hoje, organizado no âmbito do projeto Carta Elétrica. No encontro estiveram presentes Gonçalo Castelo Branco, diretor de Mobilidade Inteligente da EDP Comercial; Luís Cabaço Martins, administrador do grupo Barraqueiro; Nuno Silva, gestor das vendas para frotas da Volvo Car Portugal; e Roberto Fonseca, diretor-geral da Arval Portugal.

Estas foram as principais conclusões:

Ainda há entraves à adesão à mobilidade elétrica

  • As vendas de carros elétricos e híbridos plug-in em Portugal têm atingido recordes quase todos os meses deste ano, mas este crescimento parece dever-se mais às empresas do que aos particulares. “Há muito mais abertura da parte das empresas para comprar elétricos ou híbridos plug-in. Da parte dos particulares ainda há uma resistência”, repara Nuno Silva. O preço e o baixo poder de compra dos portugueses são das principais razões, tal como os apoios à compra que, apesar de existirem, estão limitados em montante e número. Além disso, é mais fácil fazer uma previsão de gastos numa empresa porque “as frotas têm previsibilidade no número de deslocações, nos kms que fazem, no local onde estacionam”, repara Gonçalo Castelo Branco.
  • Mas ainda há entraves e a falta de uma rede de carregamento abrangente geograficamente é uma delas, apesar de ter crescido o dobro nos últimos anos. “Há empresas para as quais ainda não faz sentido ter carros elétricos”, diz Roberto Fonseca. Por exemplo, “se tivermos uma equipa comercial que faça Lisboa-Porto várias vezes por semana, ainda não faz sentido um carro elétrico”, acrescenta Nuno Silva. Contudo, Gonçalo Castelo Branco repara que, precisamente por haver previsibilidade nos consumos e rotinas das frotas é que é mais fácil gerir os carregamentos dos carros, mesmo com a rede atual.
  • É que reconverter as frotas das empresas é um passo essencial no processo de descarbonização porque são estes carros que mais circulam e mais emitem CO2. Diz Gonçalo Castelo Branco, os carros das empresas representam, na Europa, 20% do parque automóvel; 40% dos quilómetros percorridos e 50% das emissões.

“Tem de haver mais incentivos para aumentar a rede de carregamento. O esforço que foi feito para dobrar o número de postos foi toda feito por privados”, diz Gonçalo Castelo Branco

Mais incentivos e mais apoios europeus

  • Esta reconversão torna-se ainda mais pertinente quando se fala dos transportes públicos, esses sim, em constante circulação, tanto dentro das cidades como nas viagens de longo curso. Para o longo curso, ainda existem poucas soluções tecnológicas, porque as autonomias são baixas para veículos que já são pesados por natureza, mas que vão ainda mais pesados porque transportam passageiros e não podem parar muito tempo a meio do caminho para carregar. E, por isso, estas empresas estão a começar pelos autocarros urbanos.

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mil é o número de autocarros que existem em Portugal, a maior parte deles a gasóleo
  • A Barraqueiro, que tem cerca de 1800 autocarros, assumiu o compromisso de ter 260 com tecnologias limpas até 2026, “muito possivelmente eletrificados”, diz Luís Cabaço Martins. E está a fazer o seu papel na descarbonização, diz. Mas “nesta fase inicial" não o podem fazer sozinhos: "Precisamos de mais incentivos e de apoios do Estado, porque não se pode pedir a uma empresa que mude toda a sua frota sem ter depois um retorno”. É que “um autocarro elétrico custa 1,5 vezes mais que um a combustível fóssil”, alerta.
  • Luís Cabaço Martins nota mesmo que, até os fundos europeus para este sector são escassos. Para 2021, diz, havia €40 milhões, mas candidataram-se projetos de €60 milhões.

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