“Há muito mais abertura da parte das empresas para comprar elétricos ou híbridos”
Gonçalo Castelo Branco, da EDP Comercial, conversa com Luís Cabaço Martins, da Barraqueiro, antes de mais uma conferência do projeto Carta Elétrica
NUNO FOX
Gonçalo Castelo Branco, da EDP Comercial, conversa com Luís Cabaço Martins, da Barraqueiro, antes de mais uma conferência do projeto Carta Elétrica
NUNO FOX
13
Na terceira e última conferência do projeto Carta Elétrica, uma iniciava que junta o Expresso e a EDP, debateu-se a relevância das empresas no processo de transição energética e de eletrificação
Os entraves e os desafios da reconversão das frotas das empresas e dos transportes públicos foi o tema mais discutido no debate de hoje, organizado no âmbito do projeto Carta Elétrica. No encontro estiveram presentes Gonçalo Castelo Branco, diretor de Mobilidade Inteligente da EDP Comercial; Luís Cabaço Martins, administrador do grupo Barraqueiro; Nuno Silva, gestor das vendas para frotas da Volvo Car Portugal; e Roberto Fonseca, diretor-geral da Arval Portugal.
Estas foram as principais conclusões:
Ainda há entraves à adesão à mobilidade elétrica
As vendas de carros elétricos e híbridos plug-in em Portugal têm atingido recordes quase todos os meses deste ano, mas este crescimento parece dever-se mais às empresas do que aos particulares. “Há muito mais abertura da parte das empresas para comprar elétricos ou híbridos plug-in. Da parte dos particulares ainda há uma resistência”, repara Nuno Silva. O preço e o baixo poder de compra dos portugueses são das principais razões, tal como os apoios à compra que, apesar de existirem, estão limitados em montante e número. Além disso, é mais fácil fazer uma previsão de gastos numa empresa porque “as frotas têm previsibilidade no número de deslocações, nos kms que fazem, no local onde estacionam”, repara Gonçalo Castelo Branco.
Mas ainda há entraves e a falta de uma rede de carregamento abrangente geograficamente é uma delas, apesar de ter crescido o dobro nos últimos anos. “Há empresas para as quais ainda não faz sentido ter carros elétricos”, diz Roberto Fonseca. Por exemplo, “se tivermos uma equipa comercial que faça Lisboa-Porto várias vezes por semana, ainda não faz sentido um carro elétrico”, acrescenta Nuno Silva. Contudo, Gonçalo Castelo Branco repara que, precisamente por haver previsibilidade nos consumos e rotinas das frotas é que é mais fácil gerir os carregamentos dos carros, mesmo com a rede atual.
É que reconverter as frotas das empresas é um passo essencial no processo de descarbonização porque são estes carros que mais circulam e mais emitem CO2. Diz Gonçalo Castelo Branco, os carros das empresas representam, na Europa, 20% do parque automóvel; 40% dos quilómetros percorridos e 50% das emissões.
“Tem de haver mais incentivos para aumentar a rede de carregamento. O esforço que foi feito para dobrar o número de postos foi toda feito por privados”, diz Gonçalo Castelo Branco
Mais incentivos e mais apoios europeus
Esta reconversão torna-se ainda mais pertinente quando se fala dos transportes públicos, esses sim, em constante circulação, tanto dentro das cidades como nas viagens de longo curso. Para o longo curso, ainda existem poucas soluções tecnológicas, porque as autonomias são baixas para veículos que já são pesados por natureza, mas que vão ainda mais pesados porque transportam passageiros e não podem parar muito tempo a meio do caminho para carregar. E, por isso, estas empresas estão a começar pelos autocarros urbanos.
12
mil é o número de autocarros que existem em Portugal, a maior parte deles a gasóleo
A Barraqueiro, que tem cerca de 1800 autocarros, assumiu o compromisso de ter 260 com tecnologias limpas até 2026, “muito possivelmente eletrificados”, diz Luís Cabaço Martins. E está a fazer o seu papel na descarbonização, diz. Mas “nesta fase inicial" não o podem fazer sozinhos: "Precisamos de mais incentivos e de apoios do Estado, porque não se pode pedir a uma empresa que mude toda a sua frota sem ter depois um retorno”. É que “um autocarro elétrico custa 1,5 vezes mais que um a combustível fóssil”, alerta.
Luís Cabaço Martins nota mesmo que, até os fundos europeus para este sector são escassos. Para 2021, diz, havia €40 milhões, mas candidataram-se projetos de €60 milhões.