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(Re)Viver a história com os Itinerários Napoleónicos no Centro de Portugal

(Re)Viver a história com os Itinerários Napoleónicos no Centro de Portugal

Das batalhas durante as invasões francesas, castelos e fortalezas ficaram para contar a história. Hoje, foram criados os Centros de Interpretação que dão a conhecer as estratégias militares defensivas utilizadas por ambos os exércitos

Os Itinerários Napoleónicos são percursos turísticos relacionados com a Terceira Invasão Francesa que teve origem em julho de 1810 e terminou em abril de 1811. No início do século XVIII, a história da Europa foi marcada pelas guerras napoleónicas que, lideradas por Napoleão Bonaparte, tinham como objetivo transformar a França no grande império europeu. Na tentativa de travar as ambições expansionistas, as potências europeias criaram coligações, o que leva Napoleão a decretar, em 1806, o Bloqueio Continental que proíbe a entrada de navios ingleses nos portos europeus.

Portugal, vinculado por uma antiga aliança com Inglaterra, que ligava os dois países desde o século XIV, não cumpriu e manteve os portos e o comércio abertos a Inglaterra. Como consequência, o exército francês invade o país e D. João VI e a corte portuguesa fogem para o Brasil. A Inglaterra, na ausência de liderança política e militar em Portugal, enviou o General Wellesley, Primeiro Duque de Wellington, para chefiar o país contra os invasores. No território nacional, a Terceira Invasão Francesa Começou em Almeida e prosseguiu para o Bussaco, e terminou nas Linhas de Torres Vedras, de onde os invasores se retiraram, derrotados, culminando assim com o fim das Invasões em Portugal.

Almeida
Foto: Aldeias Históricas de Portugal

Após duas tentativas, deu-se uma terceira invasão francesa no início de 1810, sob o comando do Marechal André Masséna, que entrou em Portugal através da região nordeste, conquistou Almeida e tencionava marchar em direção a Lisboa, mas foi intercetado pelas forças aliadas e derrotado na Batalha de Bussaco a 27 de setembro de 1810. Os franceses chegaram às Linhas de Torres Vedras, revelando-se uma barreira intransponível esperavam por reforços e provisões que nunca chegaram. Massena teve de se retirar novamente para Espanha perseguido pelos aliados, pondo fim à terceira invasão, em 1811. Ainda na retirada, aconteceram diversos conflitos com alguma dimensão, entre as quais a batalha de Casal Novo em Condeixa-a-Nova e o combate de Foz de Arouce, Lousã.

Este roteiro centra-se apenas nos territórios da região Centro de Portugal, e liga Almeida, municípios das Linhas de Torres (Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras), passando por Pinhel, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Nelas, Carregal do Sal, Tondela, Santa Comba Dão, Mortágua, Penacova, Mealhada, Coimbra, Leiria, Tomar, Pombal, Condeixa-a-Nova, Lousã, Vila Nova de Poiares, Arganil e Guarda.

1.º ITINEÁRIO ALMEIDA A PINHEL
A fortaleza de Almeida foi renovada em 1641 durante a Guerra da Restauração sob um projeto de Pierre Gilles de Saint-Paul, inspirado nos tratados de Deville. David Álvares foi o arquiteto responsável pela sua execução. A fortificação tem uma planta estrela de 12 pontas. É uma das fortalezas mais importantes de Portugal, construída em meados do século XVII, em La Raya, para defesa contra Espanha. Conserva as suas duas entradas principais e os seus inúmeros espaços abrigam várias coleções e um centro de interpretação. No mês de agosto são reconstituídos os acontecimentos históricos ocorridos em 1810 durante a 3ª invasão francesa. O evento é organizado pela Câmara Municipal de Almeida e pelo Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida, com a colaboração de vários grupos de Portugal, França, Grã-Bretanha, Alemanha e diferentes partes de Espanha.

2.º ITINERÁRIO DE PINHEL AO BUSSACO

Durante a Reconquista Cristã da Península Ibérica, com a afirmação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques (1112-1185) procedeu ao repovoamento e reforço das defesas de Pinhel. O castelo tem uma forma oval e está rodeado por uma muralha que circunda a colina e o centro histórico. Foi originalmente reforçado por seis torres quadradas das quais apenas duas permanecem. Construído sobre uma colina granítica, o Castelo de Celorico da Beira fica no sopé da Serra da Estrela, em posição dominante sobre a vila e o rio Mondego. A 16 de setembro de 1811, os soldados franceses do General Ney entram na vila de Trancoso e encontram-na vazia, saqueando-a e destruindo casas, igrejas, capelas, conventos e campos. Em Trancoso, ainda existe a lenda de uma mulher que enganou vários soldados que, passando um a um por sua casa, ela empurrava-os para o interior de um poço privado. Sabe-se que os franceses estiveram na cidade quatro vezes, a última a 17 de dezembro.

Invadida a 17 e 18 de julho de 1810, a vila de Fornos de Algodres foi totalmente saqueada pelas tropas francesas. Na Igreja Paroquial da Misericórdia, toda a prata encontrada e vários objetos do tesouro do templo foram roubados causando outros danos materiais, como a profanação da porta do tabernáculo. Foram muitas as mortes e violações sofridas. O território de Mangualde ficou na rota de passagem das tropas francesas, em 1810. À destruição das culturas e falta de animais, juntava-se a devastação de edifícios públicos, casas, objetos artísticos, documentos e instrumentos agrícolas. A Terceira Invasão Francesa teve grande impacto no concelho de Santa Comba Dão, com uma aldeia e metade de outra, destruídas.

3.º ITINERÁRIO DE BUSSACO A COIMBRA

Durante a Guerra Peninsular e, nomeadamente, aquando da III Invasão Francesa, Mortágua, foi o palco da definição de estratégias para aquela, que viria a ser, uma das mais importantes batalhas registadas entre os exércitos beligerantes, a Batalha do Buçaco. No Carvalhal, existem vários testemunhos que recordam a passagem dos franceses, pela vila, os quais apenas pouparam uma casa e uma capela, situadas mais a norte da vila. Reza a lenda que naquela casa, que ainda hoje existe, os soldados franceses teriam aproveitado os lençóis das camas para fazer tochas, as quais acendiam durante a noite. Em Aveleira, diz-se que os franceses não saquearam a capela, porque o seu padroeiro, Santo Amaro, era um santo de origem francesa.

O Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco” apresenta-se como um espaço de divulgação, estudo e conhecimento sobre um acontecimento militar que marcou a região e em particular o concelho de Mortágua. Além da sua função didática, científica e cultural, o Centro Interpretativo constitui-se como um espaço de preservação da memória e uma homenagem à coragem e tenacidade dos homens e mulheres que enfrentaram os poderosos exércitos napoleónicos. O percurso passa ainda pelo Campo Militar da Batalha do Bussaco E Monumento Comemorativo, pelo Museu Histórico e Militar do Bussaco e pela Mata do Bussaco.

4.º ITINERÁRIO DE COIMBRA A ARRUDA DOS VINHOS

Em Coimbra, a passagem deste itinerário faz-se pela Universidade de Coimbra, Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Sé Velha, Sé Nova e pelo Museu Nacional Machado de Castro. Sugere-se ainda a passagem pelo Mosteiro de Santa Cruz e pela Igreja de São Tiago. Em Leiria, o Castelo de Leiria é passagem obrigatória, bem como a Igreja de São Pedro e em Torres Vedras a visita deve fazer-se ao Centro de Interpretação das Linhas de Torres – Forte de São Vicente, à Fortaleza da Archeira e ao Reduto da Feiteira.

Já em Sobral de Monte Agraço, existe um Centro de Interpretação das Linhas de Torres, o Forte do Alqueidão, no coração da primeira linha defensiva, bem como o Forte do Machado e o Forte do Simplício. O Forte Novo está localizado na primeira linha, no alto dos Galhofos. Foi a última obra militar a ser construída, após a retirada do exército francês. Também Arruda dos Vinhos tem um Centro de Interpretação das Linhas de Torres.

5.º ITINERÁRIO DE TORRES VEDRAS AO SABUGAL

Parte do castelo templário de Tomar, passa pelo Convento de Cristo, e pela Igreja de Santa Maria. Passa pela Igreja de Santa Maria em Tomar, pelo Castelo de Pombal e pela Igreja de Santa Cristina em Condeixa-a-Nova. Na Lousã, é na Batalha de Foz de Arouce travada a 15 de março de 1811, que ocorreu durante a retirada de Masséna durante a terceira invasão francesa. Passa ainda por Vila Nova de Poiares e Arganil, seguindo para a Guarda onde são famosos os massacres realizados na Guarda, a 3 de julho de 1808, onde se acredita que muitas pessoas tenham morrido como vingança pelo assédio da população às tropas francesas e pela negação de abastecimentos, terminando no Sabugal. Pode encontrar informação mais detalhada AQUI.

Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro & Mercado Oitocentista na Lourinhã

Nos dias 14,15 e 16 de julho, o município da Lourinhã celebra a data do 215.º aniversário da Batalha do Vimeiro. A iniciativa, que conta com a parceria da Junta de Freguesia do Vimeiro, da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro (AMBV) e da Associação Napoleónica Portuguesa (ANP), será assinalada por um conjunto de atividades para todas as idades.

Este ano o evento será temático com o nome “Da Guerra para a Paz”, procurando evidenciar a importância de conhecer a história para construir o caminho para a paz e cooperação, com a presença de recriadores históricos de nações outrora beligerantes, hoje reunidos sob o signo da paz e da partilha cultural. O evento decorre junto ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (CIBV), num espaço ilustrado à época, e conta com muita animação de rua, concertos, tasquinhas, artesanato e ofícios representativos daquele período.

Centro de Portugal... um destino e tanto é uma parceria Boa Cama Boa Mesa com o Turismo Centro de Portugal.

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