Da Terra à Mesa

Materramenta: a nova vida do vinho dos Biscoitos

Materramenta: a nova vida do vinho dos Biscoitos
A influência das condições meteorológicas adversas e as dificuldades ao nível da quantidade e da mão-de-obra tornam os vinhos Materramenta, nos Biscoitos, um negócio com uma viabilidade “bastante complicada”, confessa Luís Vasco Cunha, produtor. No entanto, o amor pelo projeto e pela identidade do terroir da ilha Terceira alavancaram um negócio com sede de futuro. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante

“Isto é um projeto pequeno. Os projetos dos Biscoitos são todos pequenos”, atira Luís Vasco Cunha, produtor dos vinhos Materramenta, no concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, Açores. “Os Biscoitos foram uma terra de vinha no século XIX, e mesmo antes, mas foram muito afetados pela filoxera e muita gente desistiu. Em vez de plantar Verdelho, era mais vantajoso ter aquilo a que se chama Morangueiro ou, nos Açores, Vinho de Cheiro, cuja uva dá muito mais e é muito mais resistente.”

Assim, a maior parte das vinhas, abrigadas em muros de pedra negra que se estendem até ao mar, foi convertida a essa casta, "proibida na União Europeia ainda hoje”. De alguns anos a esta parte, voltou-se ao início. “Quando ficámos com uma vinha que era do pai do meu sogro, levantámos tudo e fizemos novas plantações, desta vez de Verdelho”, explica.

Materramenta

Atualmente têm dois hectares e meio de terreno, o que para os Biscoitos “não é pouco”. Pela primeira vez há uma pessoa a trabalhar na vinha a tempo inteiro – “e somos os únicos” –, o objetivo é “ganhar dimensão dentro da pequenez”. Em números, será produzir, “num ano, no máximo, 10 mil garrafas”. Este ano vão engarrafar cerca de 1600/1700. “Quando começámos, assumimos que queríamos fazer algo diferente. Contratámos uma enóloga, que continua a trabalhar connosco, que é a Cátia Laranjo, do Pico, e temos um consultor de vinhos, que também é enólogo, que é o Constantino Ramos.

No entanto, confessa que “quase todos os anos são maus”, desabafa. “Os antigos diziam que havia um ano bom de sete em sete anos.” As contas tentam equilibrar-se mas “a viabilidade disto como negócio é bastante complicada.” “É um misto de um hobby com um projeto de coração”, admite Luís, que batizou a marca com o nome do primeiro dono das terras dos Biscoitos.

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Brindar ao futuro sem perder a identidade

“Em 2016 engarrafámos o nosso primeiro vinho, mas foi uma coisa muito rudimentar. Na altura, não tive em conta que os vinhos poderiam funcionar para exportação. Mas, em 2022, já conseguimos colocar vinho em Singapura, na Bélgica, em Espanha e na Dinamarca. Dentro da pequena produção que temos, não temos vinho suficiente para as vendas, por isso, preferimos abrir portas do que vender tudo em dois ou três lugares.”

Com vontade de fazer mais e melhor, e de conciliar história com inovação, adquiriram uma casa do século XIX, que será também um projeto de enoturismo, “que tem uma das primeiras adegas dos Biscoitos”, incluindo um lagar dessa época e uma ermida. “Vamos fazer a nossa adega lá.” As plantações de Verdelho nas vinhas vão ser feitas em breve.

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No futuro, “nos Biscoitos, o único caminho que temos é avançar mais, melhorar processos de produção, de cultivo e de venda sem nos desviarmos do nosso ADN”, refere. “Não temos quantidade, não temos área para produzir muito, não temos mão-de-obra, não temos preço, só podemos ir no sentido daquilo que somos.” Reforçar a orientação para o mercado e aumentar a competitividade, com maior incidência na investigação, na tecnologia e na digitalização é uma das medidas da PAC para o período compreendido entre 2023 e 2027 e é também uma das missões da empresa: “temos um projeto piloto numa das nossas vinhas de monitorização da humidade, da chuva e do vento. A informação sobre as alterações é transmitida de três em três minutos para uma central. Estamos também a iniciar outro, em parceria com a Universidade dos Açores e com entidades nos Estados Unidos da América, de análise dos solos para adequarmos as colheitas ao conhecimento científico de hoje”, sustenta Luís.

Chegada a hora de beber, conte com um vinho com “mineralidade, salinidade, acidez e sabor a mar”. Por isso, e como tudo o que é diferente, “não é necessariamente um produto redondo” ou fácil de agradar a todos. “Somos o nicho do nicho.” À mesa, o vinho Materramenta, com 70% da casta Verdelho e 20% de Terrantez da Terceira, “combina muito bem com os nossos queijos e com peixe”, sugere.

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A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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