Espanha vai boicotar o Festival Eurovisão da Canção em 2026 se Israel participar, decidiu esta terça-feira o Conselho de Administração da RTVE, a televisão pública espanhola.
A proposta de boicote foi votada no Conselho de Administração e foi aprovada, "por maioria absoluta", com 10 votos a favor, quatro contra e uma abstenção, anunciou o presidente da RTVE, José Pablo López, numa publicação nas rede social X.
"Espanha retirar-se-á da Eurovisão se Israel continuar no certame", escreveu José Pablo López.
Espanha é o primeiro país do grupo conhecido como "Big 5" a anunciar este boicote.
Fazem parte dos "Big 5" as televisões públicas que contribuem com mais verbas para a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) e, assim, para a organização do Festival Eurovisão da Canção.
Os "Big 5" são Espanha, Reino Unido, França, Alemanha e Itália e as canções destes países têm acesso direto à final em cada edição do festival.
Além de Espanha já anunciaram um boicote à edição de 2026, caso Israel participe, outros quatro países: Irlanda, Eslovénia, Islândia e Países Baixos.
Os boicotes devem-se aos ataques militares de Israel no território palestiniano da Faixa de Gaza, que o Governo espanhol classifica como um genocídio.
Também uma comissão internacional independente de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) acusou hoje Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza desde o início da guerra no território, em 07 de outubro de 2023, com a "intenção de destruir" os palestinianos.
"Nós chegamos à conclusão que um genocídio acontece em Gaza e vai continuar a acontecer, sendo que responsabilidade cabe ao Estado de Israel", disse a presidente desta comissão, Navi Pillay, ao apresentar hoje o relatório da investigação da Comissão da ONU sobre os crimes cometidos nos territórios palestinianos ocupados.
O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, já defendeu por diversas vezes, que Israel deveria ser excluído de competições desportivas e culturais internacionais, como aconteceu com a Rússia na sequência do ataque à Ucrânia em 2022.
O diretor do Festival Eurovisão da Canção, Martin Green, disse na sexta-feira à agência de notícias AFP que cada membro da EBU pode decidir livremente se quer ou não participar no concurso e que essa decisão será respeitada.
"Compreendemos as preocupações e opiniões (...) relativas ao conflito em curso no Médio Oriente", afirmou Martin Green.
O Festival Eurovisão da Canção é organizado pela EBU, a primeira aliança mundial de meios de comunicação social de serviço público, fundada em 1950, em cooperação com mais de 35 países, e da qual a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) faz parte.
O concurso realiza-se anualmente desde 1956 e já houve países excluídos, caso da Bielorrússia, em 2021, após a reeleição do presidente Aleksandr Lukashenko, e da Rússia, em 2022, após a invasão da Ucrânia.
Israel foi o primeiro país não europeu a poder participar, em 1973, e ganhou quatro vezes.
Na edição deste ano, em maio, em Basileia, Suíça, Israel ficou em segundo lugar.
A presença de Israel no concurso foi contestada por artistas que já participaram no concurso e por países como Espanha e Finlândia.
Este ano, Israel foi representado por Yuval Raphael, uma das sobreviventes do ataque do grupo extremista islamita Hamas em solo israelita, em 7 outubro de 2023.