
“Arca” é o regresso imperdível dos portuenses Três Tristes Tigres, uma das raras bandas cuja “segunda vida” é tão estimulante como a primeira
“Arca” é o regresso imperdível dos portuenses Três Tristes Tigres, uma das raras bandas cuja “segunda vida” é tão estimulante como a primeira
Jornalista
“Todos nascemos migrantes”: a frase à volta da qual flutua ‘Exodus’, um dos temas do novo álbum dos Três Tristes Tigres, “Arca”, é o mote perfeito para entrar num trabalho que, à semelhança de outros discos nacionais deste ano, reflete de forma crua o seu tempo. Relativamente ausente da música feita em Portugal nos últimos anos, a intervenção — ou, pelo menos, a observação atenta do zeitgeist — voltou, em 2025, ao formato canção. Em “Um Gelado Antes do Fim do Mundo”, a rapper Capicua montou um mosaico de temas fraturantes (feminismo, ascensão da extrema-direita, ecologia) que tem encontrado basta adesão popular no verão festivaleiro, e não só. Com “Ferry Gold”, A Garota Não confirmou a pena afiada com que vem conquistando admiradores — além de fazer poesia com o preço das viagens no ferry que liga Setúbal a Troia e todas as questões que daqui decorrem, como a privatização do espaço público, a cantora-compositora escreveu a canção que resume o depauperado estado da saúde materna neste verão: ‘Este País Não É Para Mães’. De Braga, e inspirados pela ameaça dos ‘novos’ fascismos, os Mão Morta fizeram prova de vida com “Viva la Muerte!”. É caso para dizer que não há fome que não traga fartura, pois a três meses do final do ano chega “Arca”, brilhante dissertação dos também veteranos Três Tristes Tigres sobre o estado do mundo. Não serão muitos os casos de bandas cuja ‘segunda vida’ é, pelo menos, tão estimulante como a primeira, mas é nesse campeonato que se apresentam, em pleno século XXI, Ana Deus e Alexandre Soares.
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