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Os polícias dizem-lhe “vai-te embora para a tua terra”, Adilson responde “a minha terra é aqui”: nos ensaios da ópera de Dino D’Santiago

Os polícias dizem-lhe “vai-te embora para a tua terra”, Adilson responde “a minha terra é aqui”: nos ensaios da ópera de Dino D’Santiago

Desafiado a criar a primeira ópera crioula, Dino D’Santiago resolveu contar a história de um amigo de infância nascido em Angola, filho de pais cabo-verdianos, que veio viver para Quarteira ainda bebé e aos 42 anos ainda não tem cidadania portuguesa. “Adilson”, com libreto de Dino D‘Santiago (a partir de texto de Rui Catalão) e música de Martim Sousa Tavares, apresenta-se no palco do CCB, em Lisboa, de sexta a domingo, e depois segue para Braga, Faro e Aveiro. A BLITZ esteve nos ensaios

Os polícias dizem-lhe “vai-te embora para a tua terra”, Adilson responde “a minha terra é aqui”: nos ensaios da ópera de Dino D’Santiago

Rita Carmo

Fotojornalista

“Mas eu sou daqui… eu vivo aqui.” A resposta que Adilson dá a dois polícias que o provocam, dizendo “vai-te lá embora para a tua terra”, é a mesma que muitos poderão endereçar ao coro volumoso que se insurge contra a população vinda de fora para viver em Portugal. Apresentada por Dino D’Santiago como “a primeira ópera crioula”, “Adilson” dá voz a seres humanos “invisíveis”, que vivem no país com a vida adiada por não lhes ser concedida cidadania. “Não esperei viver este momento da história, em que as pessoas gritam com orgulho o preconceito que carregam no peito”, confessa-nos o músico, quando nos sentamos para falar com ele no intervalo de um ensaio da ópera que não só parte de um conceito seu como é encenada por si. A estreia acontece esta sexta-feira no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, integrada na programação da BoCA — Bienal de Artes Contemporâneas, mas o espetáculo viaja, depois, até Braga (Theatro Circo, 19 de setembro), Faro (Teatro das Figuras, 25 de outubro) e Aveiro (Teatro Aveirense, 7 de novembro). D’Santiago acrescenta, contudo, que esse “período muito triste” da história do país que o viu nascer há 42 anos não lhe retira “forças para lutar por aquilo que [acredita] ser o mais belo na Humanidade: os pontos onde nos encontramos como seres humanos”. O convite inesperado para criar uma ópera foi-lhe endereçado pelo curador, programador cultural e encenador John Romão, fundador da BoCA. “Foi um desafio que, à primeira, me fez pensar ‘não consigo desenvolver um libreto’, mas ele trouxe-me as pessoas certas para que me pudesse focar somente na história e em criar as canções”, recorda.

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