“Middle of adventure, such a perfect place to start.” A tirada não saiu da pena de Grian Chatten, carismático vocalista dos Fontaines D.C., mas sim do catálogo de frases de Alex Turner, seu homólogo nos Arctic Monkeys. Pertence, aquela deixa, a uma das canções mais estimadas pelos fãs dos Monkeys, ‘505’, incluída no segundo álbum da banda, lançado em 2007. Só mais tarde — mais precisamente, três discos e seis anos mais tarde — é que os Arctic Monkeys seguiriam a sua própria dica, aproveitando para operar uma mudança estilística ‘a meio da viagem’. Com “AM”, de 2013, espetaram uma lança na América, onde se tornaram (mais) populares à boleia de canções bojudas e universais, menos umbilicalmente ligadas aos pubs de Sheffield onde começaram a desenhar o seu universo, lírico e sonoro. Muitos fãs não lhes perdoaram: nem essa metamorfose de grupo indie de estimação em autores de êxitos radiofónicos, nem a posterior viragem para um hermetismo quase lounge. A verdade, porém, é que, depois de cimentada uma fórmula, duas opções se afiguram à maioria das bandas que já conquistaram um certo estatuto: continuar a fazer a mesma canção, com resultados cada vez mais baços, ou mudar. Depois de três belíssimos álbuns com as cores soturnas do pós-punk, os Fontaines D.C. escolheram a segunda via.
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