Quando entabularam uma espécie de curso de fado à distância, Aldina Duarte, fadista lisboeta com provas dadas, e Capicua, rapper e escritora natural do Porto, estavam em momentos de relativo desânimo, ou pelo menos de reflexão. Com um longo percurso e uma atitude que amiúde lhe merece o epíteto de ‘punk’, a autora de “Quando Se Ama Loucamente” questionava-se se valeria a pena continuar a gravar discos. “Eu tenho de querer dizer alguma coisa às pessoas”, afirma. “Não tenho esse dom de cantar só por cantar, só pelo prazer de cantar”, explica a artista que, há alguns anos, desistiu do fado e foi trabalhar como secretária da Cinemateca, em Lisboa. Salvaram-na da rotina Camané e Maria da Fé, que a ‘convocaram’ para voltar a cantar na casa de fado Senhor Vinho, em dia de aniversário da sua madrinha. Desta feita, a crise existencial não foi tão profunda, mas Aldina Duarte voltou a interrogar-se sobre a premência de editar um disco. A norte, Capicua, autora de vários álbuns aplaudidos e dona de um estilo lírico reconhecível, perguntava-se o mesmo: “Eu estava num ano de pousio e reconciliação com a minha criação. E quando digo que o nosso disco salvou aquele inverno [de 2022-2023], é porque canalizei para a escrita muitas das minhas emoções. Uma das minhas letras favoritas, ‘Pisco-de-Peito-Ruivo’, [reflete] a minha relação com a criação naquele momento. Às vezes, é a catarse que nos salva.”
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt