“Uma etiqueta faz-se com gosto. Eu fiz uma etiqueta porque adorava o que estava a fazer. O meu interesse comercial era nulo. Houve até gravações que eu tive que pagar do meu bolso”. Estas declarações de Arnaldo Trindade, homem do leme do histórico catálogo da agora renascida Orfeu [em 2011, ano da publicação deste artigo, o selo foi reativado para reeditar em CD a obra de José Afonso a ele pertencente], soam a remate de entrevista, a conclusão, mas foram, na verdade, proferidas logo no início da conversa. O lançamento recente de novos discos com selo Orfeu vem recolocar no plano presente aquilo que parecia fazer parte apenas dos domínios da memória. Paulo de Carvalho, nestas mesmas páginas e muito recentemente, descreveu Arnaldo Trindade como “um homem visionário” e só conseguiu responder com silêncio às questões sobre a indisponibilidade do seu material clássico da Orfeu. Mas há agora uma segunda vida para uma marca que ficou profundamente associada ao 25 de Abril tanto ‘E Depois do Adeus’ como ‘Grândola Vila Morena’, as duas notórias senhas da revolução, foram lançadas pela Orfeu e que investiu numa postura singular no panorama discográfico português. Razões mais do que suficientes para se partir ao encontro de quem, há quase 60 anos, tomou as rédeas da empresa familiar de distribuição de eletrodomésticos e transformou o nome Arnaldo Trindade numa marca sólida dentro do universo da música portuguesa.
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