Cronista de uma cultura muito particular, a dos irlandeses expatriados que nos pubs de Londres ou nas ruas de Nova Iorque circulavam como fantasmas entre prostitutas e criminosos, Shane MacGowan deixou tocantes contributos para a mais funda música folk, que cruzou, como ninguém, com atitude punk. Em Portugal, esteve pela primeira vez em 1989 – recorda-se uma caótica conferência de imprensa dos Pogues no bar “Foxtrot” –, para concertos que uma geração não esqueceu. As canções ficarão para sempre
O primeiro concerto dos Pogues em Lisboa, a 28 de abril de 1989, ganhou – um pouco à maneira de Woodstock, festival em que muita gente garante ter estado sem nunca ter posto os pés na quinta de Max Yasgur – uma aura mítica: assegurar nos anos que entretanto foram passando que se tinha estado naquela noite no Coliseu dos Recreios seria o equivalente a garantir pertença à geração que acreditava, no que à música dizia respeito, ter mudado o mundo nos hoje incensados “anos 90” e, pois claro, significava ainda que se tinha testemunhado uma das mais caóticas performances de que se guarda memória nos anais da historiografia pop nacional. Nos dias que se seguiram a essa furiosa aparição – a palavra é mais do que adequada para um torturado poeta-católico que chegou a liderar uma banda chamada The Popes... –, as histórias trágico-cómicas sobre o icónico líder da banda circulavam à boca-cheia e todas pareciam apontar para um milagre: como seria possível que Shane MacGowan cumprisse a sua função de líder dos Pogues tendo em conta os litros de álcool e a quantidade de comprimidos que ingeria?
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