Meia hora volvida sobre o início do espetáculo de Baby Keem, o penúltimo no (novo) palco principal do Primavera Sound Porto, e quando já se julgava que a benevolência de São Pedro teria bafejado a Circunvalação e arredores, eis que os pingos grossos começam a cair sobre as cabeças desprotegidas.
De sobreaviso, o Parque da Cidade do Porto revestiu-se rapidamente de impermeáveis, que Óscar, o da depressão, pelo menos disse ao que vinha. Em palco, apreciando agora, além de alguns milhares de conhecedores ("Baby Keem, Baby Keem!", ouvimos gritar na frente do palco), os pingos da chuva nos céus do Porto (à sua direita) e de Matosinhos (à sua esquerda), o rapper californiano Baby Keem, 22 anos feitos no outono passado, evidencia o seu gabarito.
Por vezes, com a confiança desmedida própria de quem tem 22 anos, tem um primo que faz mais caro, mas também percebe do ofício desde a adolescência: em ‘Booman’, incluído no único álbum que lançou até agora, “Melodic Blue” (2021), deixa claro: “Uh, I'm sexy and blessed/ Uh, I'm sexy and blessed/ Hol' up, I'm sexy and blessed/ Uh, I'm sexy and blessed”. Por vezes, com um romantismo à Weeknd - os anos 80 midtempo estão aí para gamar e não deixam enganar -, que o leva a pensar no outro com receio, vulnerabilidade, amor: “Won't you think about you and I?/ Just grab my hand and look me in the eye”.
O público não está aqui por ele; veio pelo primo - isso já sabemos. Mas Baby Keem, que tem Kid Cudi como grande influência e foi chamado por Kanye West para ‘Praise God’, em “Donda” (2021), tem mais do que ‘Family Ties’, o single que lançou com Kendrick há quase dois anos (e, já agora, mais do que a libido bruta de ‘Pink Panties) ou ‘Honest’ (problemas de alcova); tem um ‘bravado’ a que só faltará, porventura, uma maior afinação na mira. Aprendeu com os melhores (com Lamar já lançou, há apenas dois dias, ‘The Hillbillies’), portanto ainda vai ser maior.
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