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Chico Buarque: “Faço gosto em ser reconhecido como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim”

Chico Buarque, Prémio Camões 2019
Chico Buarque, Prémio Camões 2019
Getty Images

O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Hollanda recebeu esta segunda-feira o Prémio Camões 2019 no Palácio Nacional de Queluz. “Valeu a pena esperar por esta cerimónia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que o meu prémio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido”

Quatro anos depois do previsto, Chico Buarque de Hollanda recebeu esta segunda-feira o Prémio Camões 2019, das mãos de Lula e Marcelo Rebelo de Sousa. No discurso, começou evocou o pai, Sérgio, de quem herdou “o amor pela língua portuguesa”, e o poeta e compositor Vinicius de Moraes, “para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua”.

“Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco”, sublinhou. “Já morei fora do Brasil (…) mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal”, prosseguiu, recordando também o seu primeiro romance, “Estorvo”, que teve como ‘padrinhos’ “Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago”, hoje seus “colegas de prémio Camões”.

“Por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prémios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim”, referência a ‘Tanto Mar’, canção que compôs a seguir à Revolução dos Cravos, da qual se celebra agora o 49º aniversário.

“Valeu a pena esperar por esta cerimónia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que o meu prémio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se os prémios também são perecíveis, têm prazo de validade”, gracejou, para pouco depois concluir: “recebo este prémio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”.

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