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MEO Kalorama: quase 30 anos depois da pergunta da camisola justa, a "leoa" Róisín Murphy ainda é fogo em palco

Ao início da noite, a irlandesa Róisín Murphy mostrou a sua sensualidade e liberdade no novo festival do Parque da Bela Vista. Entre temas seus e recordações dos Moloko, deixou os corpos a dançar com prazer

MEO Kalorama: quase 30 anos depois da pergunta da camisola justa, a "leoa" Róisín Murphy ainda é fogo em palco

Lia Pereira

Jornalista

MEO Kalorama: quase 30 anos depois da pergunta da camisola justa, a "leoa" Róisín Murphy ainda é fogo em palco

Rita Carmo

Fotojornalista

Ao início da noite, respira-se um ambiente feliz de fim de verão no Palco Colina, onde é possível assistir, através dos ecrãs gigantes, ao final do concerto dos ingleses Blossoms, ali ao lado - e cantarolar com eles a versão de ‘Don’t You Want Me', dos Human League. À espera de Róisín Murphy há muitos fãs e curiosos, portugueses e não só (exclamações como “Jessie Ware, darling!”, não deixam margem para dúvidas quanta à proveniência de boa parte destes espectadores). A expectativa é palpável e será cumprida plenamente por uma entertainer de corpo e alma, num espetáculo cativante e original.

Nascida na Irlanda há 49 anos, a mulher que começámos por conhecer como voz & rosto dos Moloko nunca foi de meias medidas e, nesta noite amena, começou por mostrar ao que vinha entrando em palco de forma sorrateira, repetindo a frase “I want something more”. Acompanhada por uma banda de quatro músicos, Miss Murphy sabe que tem o público do seu lado e vai medindo a temperatura do ambiente. Ao seu mantra ambicioso ("I want something more", insiste, inabalável) vão-se juntando, pouco a pouco, a batida e o groove; este primeiro cocktail sabe a funk, soul e house, mostrando que a artista não perdeu pitada do carisma, nem de uma musicalidade sempre orientada para uma certa ideia de hedonismo.

Na mala, Róisín Murphy trouxe vários acessórios (casacos coloridos e perucas a condizer, por exemplo) e, acima de tudo, muita imaginação. 28 anos depois de perguntar a Mark Brydon, seu companheiro nos Moloko e, mais tarde, na vida, se gostava da sua camisola justa, a irlandesa ainda é puro fogo em palco. Mas a sua festa tem tanto de libertação como de controlo. Vestindo fatos coloridos, mas largos, espalha uma sensualidade pouco convencional, pontuada por danças de pura alegria e um olhar de desafio permanente ("Se tu fosses gaja, eras ela!", diz uma rapariga ao amigo. “Eu sei, ela é o meu spirit animal!”, exulta ele). Não há, por aqui, explosões repentinas, mas sim um crescendo gostoso que se vai erguendo devagar, com subtileza.

Do mais recente álbum, a que chamou “Róisín Machine”, por sentir que está sempre a trabalhar, ouvimos ‘’Incapable', e da restante carreira a solo o êxito ‘Overpowered’ ou ‘We Are The Law’. Construindo-se em lume brando e por acumulação de camadas, a sua eletrónica é suculenta e carnal, revestida de fantasia e mistério. Mas é, naturalmente, ao recuperar os sucessos dos Moloko que o Palco Colina mais se acende.

Quando a plateia se une a uma só voz para cantar “The Time Is Now”, de 1999, a frase parece verdade; logo de seguida, ‘Overpowered’ mergulha o palco em tons sombrios, contrastando com as plumas rosas que emolduram a cara da nossa anfitriã, que gosta de se perder na música, mas sempre com um mapa por perto. Prolongando o prazer de todos, ‘Sing It Back’, também dos Moloko, encontra Roísín Murphy embrulhada num traje vermelho e entregue à batida quente de uma percussão dupla. No público, os corpos dançam e as mentes fazem planos para amanhã (os nossos “vizinhos” querem ir ver Disclosure e Meute), em palco a festa continua, a certa altura ilustrada pelo vídeo do êxito de 1998: Róisín de vestido prateado, em modo disco queen, brilhante como uma bola de espelhos. A luz continua a mesma.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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