Há concertos assim, em que tudo parece no seu sítio: banda capaz (e numerosa: com percussões extra), vocalista comunicativo e expressivo, canções arredondadas e um ou outro refrão capaz de singrar. Contudo, no terceiro concerto em Portugal (os dois anteriores no NOS Alive 2017 e 18), aos britânicos Blossoms ainda não se conseguiu despir a vestimenta de banda genérica que serve para abrir caminho a outra maior, mais aguardada, com um vocalista mais carismático, canções com mais ângulos e outra temperança e um punhado de refrões capazes de acender a multidão. Por outras palavras, os Blossoms são uma simpática e competente banda de abertura dos - no caso da noite em apreço - Arctic Monkeys, seus compatriotas mais famosos.
Estamos num filme permanentemente pop que mistura influências de Prefab Sprout, visíveis logo na abertura com ‘I Can’t Stand It', um certo ‘tropicalismo’ dos Talking Heads, a pop de colarinho branco dos anos 80, e até guitarras no enclave entre o indie e o mainstream inglês da mesma década, algures entre Housemartins e Waterboys. Um espetáculo em que a relação com o público parece mediada por uma proposta de contrato: a banda assume a ‘uncoolness’ e tenta que a aceitem assim; o público, sensato, não a hostiliza. Ajudaria, é certo, que a música dos Blossoms fosse mais conhecida por cá, mas nenhum dos quatro álbuns do grupo fez mossa para lá da bolha britânica.
Assim sendo, fica o respeito: nada do que ouvimos é despropositado, apenas algo inerte, sendo necessário recorrer “a outra banda de Sheffield” que não os Arctic Monkeys para aquecer o público - neste caso sob forma de uma versão de ‘Don’t You Want Me', dos Human League. Se, no calor da tarde, Legendary Tigerman pegou no amor e juntou-lhe fogo, os Blossoms colocaram duas pedras de gelo no coquetel noturno.
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