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Concerto 'secreto' no Vodafone Paredes de Coura: as canções lunares de Manel Cruz (e um drone desafinado)

Naquele que foi o derradeiro concerto em lugares imprevistos que habitualmente têm lugar durante o festival, Manel Cruz tocou no exterior de uma capela na freguesia de Formariz, em Paredes de Coura, com ternura e boa disposição

Concerto 'secreto' no Vodafone Paredes de Coura: as canções lunares de Manel Cruz (e um drone desafinado)

Lia Pereira

Jornalista

Concerto 'secreto' no Vodafone Paredes de Coura: as canções lunares de Manel Cruz (e um drone desafinado)

Rita Carmo

Fotojornalista

Começou bem cedo o último dia do Vodafone Paredes de Coura. Ao meio-dia, quando para citar o Mestre Godinho "cansados iriam ainda alguns corpos para casa", já o primeiro concerto arrancava. Tratava-se de mais um episódio das Vodafone Music Sessions, que este ano levaram a cantora-compositora MEMA. a uma pequena associação recreativa ou Chinaskee a uma estrada em construção. Num prodigioso sábado de manhã, com o sol a brilhar ainda com meiguice, coube a Manel Cruz protagonizar este espetáculo "surpresa" no exterior da Capela da Nossa Senhora da Purificação, em Formariz, perante uma plateia de campistas e imprensa.

Resgatadas a "Vida Nova", o seu mais recente álbum, lançado em 2019, mas também à colheita de Foge Foge Bandido, as canções lunares de Manel Cruz ligaram-se bem à energia cansada de final de um festival que nos puxou pelo corpo, cabeça e coração. 'Como um Bom Filho do Vento' abriu a partilha, seguindo-se 'Beija-Flor', apresentada pelo autor como "uma canção sobre inspiração ou desinspiração, que no fundo são a mesma coisa, pois a desinspiração pode ser o caminho da inspiração".

Com a voz bem quente logo pela manhã, Manel Cruz foi fazendo lume com as palavras e o ukulele, primeiro, e a guitarra acústica, mais tarde. Ajustando a teatralidade à ocasião intimista, na sempre bem-recebida 'Borboleta', apresentaria logo de seguida uma canção inspirada num documentário sobre uma antiga estrela pornográfica. "Mas não é uma canção de pinocada", esclareceu, para risota da pequena plateia. 'Ginger Lin' é, antes, uma reflexão sobre a passagem do tempo e a forma como o contexto muda a nossa perceção - no caso, a perceção de uma atriz "adulta" que, na juventude do narrador, era quase "da família".

Enquanto Manel Cruz derramava, com doçura, a sua "cançãozinha terna" sobre "sonhos feridos e amores maduros", um drone decidiu dar um ar da sua graça, fazendo um barulho impossível de ignorar. "Podem baixar um meio tom? Está meio tom acima", brincou o músico que, antes da conferência de imprensa de balanço do festival, tocou ainda 'Acordou', canção escrita durante o confinamento, na qual escreve sobre os "novos descobrimentos, mas agora para dentro", que acreditou poderem vir a acontecer. "Não me vou pronunciar sobre o que aconteceu a seguir", comentou, antes da despedida bem-disposta: "Está um dia super bonito, alto momento! Tenham um bom dia e uma boa vida".

Ao final da tarde, Manel Cruz subiu ao palco Vodafone FM para, entre muitos risos e sorrisos de parte a parte, partilhar as suas histórias acústicas com um público especialmente respeitoso de silêncios e cumplicidades. 'Falso Graal', tema escrito antes de os Ornatos Violeta lançarem, sequer, o primeiro álbum ("Cão!", de 1997), foi acompanhada por uma harmónica e tragada com sofreguidão pelos fãs. Com direito a coro afinado ("Podem acompanhar-me, não faço questão", brincou Manel Cruz), 'O Navio Dela' foi mais um momento para guardar no álbum de recordações do Vodafone Paredes de Coura, festival que acaba dentro de poucas horas mas que ameaça perdurar na memória de quem o viveu.

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