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Turnstile no Vodafone Paredes de Coura: quando o relâmpago do rock e do amor cai duas vezes no mesmo festival

Foi o primeiro grande concerto em Portugal dos Turnstile, que em 2015 tocaram num pequeno clube de Lisboa e esta quinta-feira tiveram uma imensa multidão à sua espera, em Paredes de Coura. "Temos muita sorte em estar aqui", agradeceu o vocalista Brendan Yates

São Pedro pode ter-nos poupado à trovoada que chegou a estar prevista para estes dias, mas as bandas rock (e não só) do cartaz do Vodafone Paredes de Coura têm sido generosas nas tempestades elétricas que fazem desabar sobre o recinto. As dos Turnstile, banda norte-americana a colher os frutos do impacto do mais recente "Glow On" (2021), são bruscas, breves e deixam em alvoroço os acólitos que se concentram nas primeiras 'camadas' da plateia. Ao longo do segundo espetáculo da banda em Portugal, o restante eleitorado permanece atento, aderindo com maior contenção aos apelos do franzino Brendan Yates, um vocalista frenético em cuja t-shirt branca se lê uma mensagem simples: "thank you". No final do concerto, o agradecimento saltará da roupa para o seu discurso. "Temos muita sorte em estar aqui", disse, emocionado com a imensa plateia que se estende à sua frente. "Obrigado pelo vosso tempo, por tratarem uns dos outros e por tratarem de vocês." É um discurso pacífico e positivo que, a par da loucura que se gerou no mosh pit, nos leva a acreditar que, depois dos Idles, o relâmpago do rock e do amor caiu duas vezes no mesmo festival.

À tarde, em conversa com um fã que veio de Lisboa unicamente para ver o regresso dos Turnstile (que em 2015 se estrearam por cá, com um concerto numa pequena sala de Lisboa), ouvimo-lo contar que o sucesso que a banda de Baltimore encontrou ao terceiro álbum, marcado por uma sonoridade mais eclética, caiu mal aos fãs puristas. E, de facto, quando sobem ao palco com uns cinco minutos de atraso e sem o guitarrista Brady Ebert, afastado do grupo há menos de uma semana, em condições algo nebulosas, fazem-no ao som de um floreado que deixa antecipar um som melodioso. Descendo a ladeira repleta de gente, uma rapariga diz ao amigo (ou algo mais): "Quero ver este concerto contigo." Mas bastam alguns segundos para que as primeiras filas se agitem num mosh intenso, numa espécie de réplica do abalo sísmico causado, ontem, pelos Idles.

Com um riff que entra a pés juntos e contagiante energia nervosa, 'Blackout', do novo álbum, mergulha o mosh pit no mais profundo caos. Também retiradas de "Glow On", 'Underwater Boi' e 'Don't Play', assim como 'Canned Heat', do EP de 2013 "Step 2 Rhythm", mantêm banda e fãs ligados à corrente. Mas Brendan Yates, que divide a interpretação de algumas canções com o baixista "Freaky" Franz Lyons, nunca se cansa de perguntar aos festivaleiros se estão bem. Lá à frente, tal como cá atrás, o bem-estar de quem foi ver os Turnstile é importante para o vocalista que já foi baterista (talvez por isso, de forma algo inesperada, Daniel Fang tenha tido direito a um solo).

Para a despedida, a banda guardou duas missivas invariavelmente curtas e incisivas: 'Holiday' e 'T.L.C. (Turnstile Love Connection)'. "Vamos abanar este sítio com amor", convidou Brendan Yates, antes de voltar a dar tudo de si e descer, por fim, até às grades, onde confraternizou com os fãs. Em palco, os restantes membros do grupo, incluindo Greg Cerwonka, que substitui o guitarrista Brady Ebert, distribuíram pelos seus seguidores tudo o que tinham à mão e não tinham de levar para casa, desde alinhamentos a garrafas de água. Foi mais uma história de amor correspondido, e regado a eletricidade & decibéis, neste festival a quem alguém chamou, num dia de inspiração, Paredes du Coeur.

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