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Arlo Parks não está sozinha e fez do palco do Vodafone Paredes de Coura o seu recreio

No primeiro concerto de sempre em Portugal, a jovem londrina Arlo Parks teve o público do seu lado - mesmo, ou sobretudo, quando o som falhou e os fãs se substituíram à sua voz, num momento inesperadamente bonito. "You're not alone", disse-lhe a plateia

Quase no final do primeiro concerto de Arlo Parks em Portugal, a música calou-se. Durante um bom meio minuto, a cantora-compositora de Londres e a sua banda continuaram a tocar, sem se aperceberem da falha técnica. Inquieta, a plateia começou a 'fazer barulho', como quem alerta para o silêncio repentino, e a certa altura, sobretudo nas sempre devotas filas da frente, começou a cantar o refrão da canção que então desfilava pelo palco principal do Vodafone Paredes de Coura, 'Hope'. "You're not alone like you think you are/We all have scars, I know it's hard/You're not alone, you're not alone." Foi um momento inesperadamente bonito, e até simbólico, em mais uma estreia feliz de artistas internacionais neste festival. Ao longo de uma hora, Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho, jovem certeza da música britânica, fez do palco o seu recreio. Com uma presença leve e jovial, apresentou as canções do seu premiado primeiro álbum, "Collapsed In Sunbeams", conquistando a atenção da plateia courense nesta "hora dos mágicos cansaços", como diria Florbela Espanca (citada oportunamente, esta tarde, por um nosso companheiro de ofício do "Jornal de Notícias").

O encontro com Arlo Parks - rico, de resto, em imagens poéticas como "you smell like burnt hibiscus" ou "started dreaming of a house with red carnations by the windows"- começou pelas 20h, hora a que a novata de 22 anos entrou em palco com uma imagem de girassóis de fundo. Mostrando-se feliz por atuar "enquanto o sol se põe", a londrina com origens na Nigéria e no Chade mostrou o seu universo suave e intimista. Cruzando sonoridades R&B e o chamado "bedroom pop" (já andou em digressão com a rainha de tal segmento, Billie Eilish), Miss Parks desliza pelas tonalidades acetinadas da diva Sade, acrescentando-lhe um twist contemporâneo. 'Caroline', 'Bluish' ou 'Black Dog', que a artista diz ter sido inspirada por uma das suas canções favoritas de sempre, 'House of Cards', dos Radiohead, são um veículo seguro para a sua voz doce e maviosa, que flui como uma brisa num dia de verão.

Guardando as canções mais populares para a reta final do concerto, Arlo Parks, que contou ter começado a escrever música no seu quarto, aos 15 anos, deliciou os fãs mais dedicados e conhecedores com 'Hurt' e 'Hope', a tal canção em que o público confirmou que, de facto, a estrela deste lusco-fusco não está sozinha, antes acompanhada pela voz dos que a amparam quando o som falha. "Obrigada pela vossa energia e por serem tão maravilhosos", agradeceu a nova amiga de Paredes de Coura, uma casa que sabe receber.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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