Sabíamos que o falso arranque com os anódinos Yellow Days seria facilmente colmatado no restante alinhamento do palco maior do Vodadone Paredes de Coura. Sobre o pôr do sol dos Comet Is Coming (mais jazz neste meio de agosto minhoto) já a companheira Lia Pereira se alongou acertadamente (com fotos de Rita Carmo, naturalmente); sobre o triunfo dos Parquet Courts neste terceiro dia no Alto Minho trataremos de dar conta agora.
Há uma dúzia de anos no circuito indie, os Parquet Courts não são, habitualmente, uma banda de multidões. Capazes de conter em si várias bandas, tal a fluidez estilística na discografia (e, às vezes, dentro de uma só canção), o grupo formado em 2010 por Andrew Savage (voz, guitarra), Austin Brown (voz, guitarra, teclado), Sean Yeaton (baixo) e Max Savage (bateria) começou num 'ethos' 'do-it-yourself' e, em abono da verdade, nunca o abandonou, apesar de, paulatinamente, ter 'subido' da caseira Cut the Cord That... Records até à galáxia indie Rough Trade.
A base art-punk, pós-punk, punk-funk, garage-rock (não riscar o que interessa) está lá sempre, e é suficientemente elástica para pedir meças tanto aos Wire ('Human Performance', interpretada em Coura, tem tanto de 'Outdoor Miner'), Jonathan Richman, Can, Big Black e Minutemen, cruzando tradições britânicas e americanas num cadinho 'Brooklynesco' onde o dub pode perfeitamente entrar porta adentro, onde viajamos até aos Liquid Liquid sem parar nos Rapture (apesar do cowbell) e onde o hardcore americano que deu certo permite que diferentes dinâmicas (agressão-retração) possam ser incorporadas sem que o estômago rezingue.
Ouvem-se 'Dust', 'Freebird II' ou 'Almost Had to Start a Fight', exemplos sortidos do catálogo, a que o público courense responde com mosh, crowdsurfing e alguns refrões gritados a plenos pulmões. As despesas vocais dividem-se entre Andrew Savage, voz de gravilha e espírito punk aplicado até nas canções menos gravosas, e um menos frequente (mas solicitado bastas vezes) Austin Brown. Ritmicamente, a entrega é empolgante, por vezes apimentada com um segundo aparato de percussão. As guitarras soam nervosas, crispantes, suculentas.
É no final que a banda revela que este não é um concerto qualquer. Há dez anos bem medidos, neste preciso dia, os Parquet Courts lançavam "Light Up Gold", o álbum que os deu a conhecer a um público mais vasto. "Obrigado por terem vindo à nossa festa", atirou Brown, recebendo um demorado e efusivo aplauso da multidão. E é precisamente do álbum que viu a luz a 18 do 8 de 2012 que sai 'Master of My Craft' e um supersónico apanhado final que não teve vergonha de olhar para trás. Rico e dinâmico, eis um concerto que já está fixado no álbum de glórias de Paredes de Coura 2022.
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