A 'dona' dos Porridge Radio canta como se ninguém a estivesse a ver, e faz ela bem. História de um encontro feliz em Paredes de Coura
Porridge Radio no Vodafone Paredes de Coura 2022
Rita Carmo
Porridge Radio no Vodafone Paredes de Coura 2022
Rita Carmo
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No primeiro concerto em Portugal, a banda-revelação de Brighton, Inglaterra, mostrou um belo conjunto de canções frágeis e nervosas. Podendo não parecer, é um elogio
À tarde conversámos com Dana Margolin, a cantora-compositora que lidera a banda inglesa Porridge Radio. Sentada na relva frente ao palco principal, a artista confirmou alguns dos nossos palpites, ou pelo menos não os desmentiu: Robert Smith, dos Cure, e os primeiros anos dos Arcade Fire são presenças palpáveis em "Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky", o mais recente trabalho do quarteto que - já que se fala em representatividade - é 75% feminino. Com grande simpatia, a cantora falou também da importância de cantar (e de tocar guitarra) sem pensar em perfeccionismos, e do seu apreço por todos os vocalistas que não têm grandes vozes, mas transmitem todo o sentimento. Um cruzamento entre sonoridades indie e a desfaçatez "do it your self" das bandas punk é uma descrição possível para o universo dos Porridge Radio, acredita.
Ao final da tarde, Margolin, Geordie Stott (teclas), Maddie Ryall (baixo) e Sam Yardley (bateria) subiram ao palco Vodafone FM para mostrarem como essas referências fazem sentido. Dançando com elegância entre a melancolia e a euforia, as canções dos Porridge Radio vivem do sentimento - não necessariamente positivo - e convidam à partilha e identificação. Quando, à tarde, lhe perguntámos se ouvia muitos comentários de fãs que se reveem nas suas letras, respondeu, entre risos: "Infelizmente, sim!" De facto, numa clara tendência realista, as canções dos ingleses versam temas como ataques de pânico a meio da noite ou pensamentos obsessivos que nos tiram a paz. Todas estas realidades do dia-a-dia são a argamassa da obra dos Porridge Radio, apresentada pela presença fresca e despretensiosa de Dana Margolin, na sua t-shirt de Deftones (uma das influências do último disco) e calções de veraneio com que, esta tarde, esteve a relaxar junto ao rio Coura.
Dana Margolin, vocalista dos Porridge Radio, fotografada à tarde no recinto
Rita Carmo
Apesar da sua juventude (a banda formou-se em Brighton há apenas sete anos), os Porridge Radio já têm um belo conjunto de composições, que fazem boa figura neste pôr-do-sol em Coura. É o caso de 'End of Last Year', 'U Can Be Happy If U Want To' e sobretudo 'Birthday Party', uma daquelas canções que trazem o coração na garganta, tentando travar o choro sem sucesso. Na nossa conversa vespertina, Dana Margolin explicou que esta letra, e respetiva melodia, lhe ocorreram quando passeava os cães num parque de Londres, e a frustração e ansiedade que sentia por aqueles dias se materializaram numa canção que é um dos momentos musicais deste ano - uma espécie de crise existencial com energia adolescente, que Coura soube abraçar com o devido carinho.
Antes das despedidas, os ingleses tiveram ainda tempo de passar pelo disco anterior, "Every Bad", através da catarse de 'Long' e de 'Sweet', cuja letra parece resumir este primeiro encontro da banda com o público português: "You will like me when you meet me/You might even fall in love". Em novembro haverá duas oportunidades para cimentar a relação: em Guimarães e no Super Bock em Stock, em Lisboa.
Honrando as suas heroínas, Dana Margolin canta como se ninguém a estivesse a ver, e faz ela bem, personificando canções que são invariavelmente frágeis e nervosas - e essa é, também, uma das suas forças.
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