Blitz

A 'dona' dos Porridge Radio canta como se ninguém a estivesse a ver, e faz ela bem. História de um encontro feliz em Paredes de Coura

No primeiro concerto em Portugal, a banda-revelação de Brighton, Inglaterra, mostrou um belo conjunto de canções frágeis e nervosas. Podendo não parecer, é um elogio

À tarde conversámos com Dana Margolin, a cantora-compositora que lidera a banda inglesa Porridge Radio. Sentada na relva frente ao palco principal, a artista confirmou alguns dos nossos palpites, ou pelo menos não os desmentiu: Robert Smith, dos Cure, e os primeiros anos dos Arcade Fire são presenças palpáveis em "Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky", o mais recente trabalho do quarteto que - já que se fala em representatividade - é 75% feminino. Com grande simpatia, a cantora falou também da importância de cantar (e de tocar guitarra) sem pensar em perfeccionismos, e do seu apreço por todos os vocalistas que não têm grandes vozes, mas transmitem todo o sentimento. Um cruzamento entre sonoridades indie e a desfaçatez "do it your self" das bandas punk é uma descrição possível para o universo dos Porridge Radio, acredita.

Ao final da tarde, Margolin, Geordie Stott (teclas), Maddie Ryall (baixo) e Sam Yardley (bateria) subiram ao palco Vodafone FM para mostrarem como essas referências fazem sentido. Dançando com elegância entre a melancolia e a euforia, as canções dos Porridge Radio vivem do sentimento - não necessariamente positivo - e convidam à partilha e identificação. Quando, à tarde, lhe perguntámos se ouvia muitos comentários de fãs que se reveem nas suas letras, respondeu, entre risos: "Infelizmente, sim!" De facto, numa clara tendência realista, as canções dos ingleses versam temas como ataques de pânico a meio da noite ou pensamentos obsessivos que nos tiram a paz. Todas estas realidades do dia-a-dia são a argamassa da obra dos Porridge Radio, apresentada pela presença fresca e despretensiosa de Dana Margolin, na sua t-shirt de Deftones (uma das influências do último disco) e calções de veraneio com que, esta tarde, esteve a relaxar junto ao rio Coura.

Dana Margolin, vocalista dos Porridge Radio, fotografada à tarde no recinto
Rita Carmo

Apesar da sua juventude (a banda formou-se em Brighton há apenas sete anos), os Porridge Radio já têm um belo conjunto de composições, que fazem boa figura neste pôr-do-sol em Coura. É o caso de 'End of Last Year', 'U Can Be Happy If U Want To' e sobretudo 'Birthday Party', uma daquelas canções que trazem o coração na garganta, tentando travar o choro sem sucesso. Na nossa conversa vespertina, Dana Margolin explicou que esta letra, e respetiva melodia, lhe ocorreram quando passeava os cães num parque de Londres, e a frustração e ansiedade que sentia por aqueles dias se materializaram numa canção que é um dos momentos musicais deste ano - uma espécie de crise existencial com energia adolescente, que Coura soube abraçar com o devido carinho.

Antes das despedidas, os ingleses tiveram ainda tempo de passar pelo disco anterior, "Every Bad", através da catarse de 'Long' e de 'Sweet', cuja letra parece resumir este primeiro encontro da banda com o público português: "You will like me when you meet me/You might even fall in love". Em novembro haverá duas oportunidades para cimentar a relação: em Guimarães e no Super Bock em Stock, em Lisboa.

Honrando as suas heroínas, Dana Margolin canta como se ninguém a estivesse a ver, e faz ela bem, personificando canções que são invariavelmente frágeis e nervosas - e essa é, também, uma das suas forças.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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