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Mayra Andrade no Super Bock Super Rock: "Cada nota, cada melodia, cada pensamento vão para os que sofrem com os incêndios"

A cantora cabo-verdiana deu um concerto delicioso, equilibrando as mensagens importantes (homenagens às vítimas dos fogos e à coragem do povo do seu país) com uma energia sempre solar e sedutora. Antes de Mayra, as Golden Slumbers lançaram feitiços folk

Marcado para o final da tarde, na fresca Altice Arena, o concerto de Mayra Andrade no Super Bock Super Rock terá sido um daqueles que o cenário, veraneante e idílico, do Meco teria beneficiado. Porém, a verdade é que a cantora e autora de Cabo Verde, cujas viagens pelo planeta já a levaram de Cuba, onde nasceu, a Paris, onde viveu, traz sempre o sol consigo. Ora nos temas mais pop e dançáveis (no mais recente "Manga", explorou algumas sonoridades eletrónicas), ora nas canções mais próximas da tradição do seu país, a sua energia é sempre sedutora e solar, contagiando a plateia já bastante numerosa e claramente conhecedora de temas como 'Afecto' ou 'Terra da Saudade'.

Acompanhada por uma banda igualmente entusiasmante, Mayra Andrade confessou, no final do concerto, que tentou "espremer o suminho" de um espetáculo com tempo contado e "aproveitar cada segundo" na companhia dos seus fãs. A missão foi amplamente cumprida, com igual eficácia na festa que se instala com 'Tan Kalakatan', que dá origem a um belo improviso com a banda, ou na mais urbana 'Pull Up', e nos momentos em que dedica o concerto a quem está menos feliz do que nós, neste momento.

Foi assim quando lembrou que existe uma razão para estarmos em Lisboa e não no Meco, e para dedicar "cada nota, cada melodia e cada pensamento aos que estão a sofrer com os incêndios e que todos os anos sofrem, repetidamente." Lembrando as famílias que têm "as suas casas e os seus animais" nas regiões mais afetadas, Mayra Andrade voltaria a falar "a sério" mais à frente, contando que escreveu 'Vapor de Imigrason' quando se mudou para Paris aos 17 anos. "Eu era atrevida, e valente", ri-se, explicando que foi quando começou a viver sozinha que percebeu o significado "da despedida, da esperança do reencontro, da saudade" e do sacrifício dos que partem pelos que ficam. Neste contexto, dedicou aquela canção, cujo rascunho data desses tempos remotos, aos seus avós: ambos tiveram veleiros que "ajudaram muita gente a emigrar" e ambos conheceram "trágicos destinos". O povo de Cabo Verde e a sua coragem são assim elogiados no palco principal do Super Bock Super Rock, um autêntico recreio para as canções de Mayra Andrade, que entre a festa e a luta partilham todas as cores do seu sorriso.

Na despedida, a dona de um dos figurinos mais alegres que passaram por este palco cantou, pela primeira vez ao vivo, 'Bom Bom', a sua colaboração com Batida, e desfilou junto aos fãs ao som de 'Lua', espalhando mais luz e mais calor numa sala fechada, mas aberta à sua incrível presença.

Super Bock Super Rock 2022
Rita Carmo

Antes de Mayra Andrade, e sob o sol muito quente que se derramava sobre o palco LG, as Golden Slumbers enfeitiçavam quem passava com as canções pop-folk guardadas no álbum deste ano, "I Love You, Crystal". "We love you too!", decide alguém retorquir na pequena plateia que se junta no 'quintal' da Altice Arena.

Ambas munidas de guitarras (uma elétrica, uma acústica), as irmãs Margarida e Catarina Falcão aplicaram as suas vozes maviosas na construção harmonias vocais belíssimas, por vezes trazendo à memória os Fleet Foxes. As mais sólidas das suas canções, como 'New Messiah' ou 'Mother' podiam ser 'vizinhas', também, da obra de Francisca Cortesão, uma das mais seguras vozes folk em Portugal, mentora dos Minta and the Brook Trout, e a suavidade que se desprende do palco acaba por conquistar, sem se impôr, alguns fãs.

No final, Margarida e Catarina elogiaram ainda a montagem supersónica do festival, brincando: "Eu para montar um móvel do Ikea demoro uma semana!"

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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