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Rolling Loud Portugal: quem Lil por último não é o melhor

Rolling Loud Portugal: Lil Uzi Vert
Rolling Loud Portugal: Lil Uzi Vert
Leanne Leuterio

Atlanta teve forte representação em ambos os palcos neste dia inteiramente dedicado ao trap norte-americano no festival de Portimão. Lil Baby, Lil Yachty e Lil Uzi Vert marcaram a última noite na Praia da Rocha por razões diferentes

Paulo Pena

“Summertime, festival season”, anuncia Lil Baby no último dia da primeira edição do Rolling Loud deste lado do Atlântico, depois de “Mo Bamba”, o grande tema de Seck Wes — que havia tocado no Punx Stage uma hora antes —, servir de entrada para o concerto do rapper de Atlanta, Geórgia. O laranja florescente da indumentária, do tronco às botas, permite acompanhar cada passo do artista, mesmo de noite e bem longe do Loud Stage. O trapper norte-americano dá início à atuação desfasado dos originais que tocam por trás, uma falha desculpável a princípio — realmente, não é fácil para Lil Baby acompanhar Lil Baby. Mas lá apanha o seu próprio comboio e segue em velocidade cruzeiro para uma performance segura e consistente.

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“Doing all these shows, I've been on the road” — e nota-se. A dinâmica dos versos de “Drip Too Hard”, cantados a cappella em coro com a plateia, ou do refrão de “Yes Indeed”, com tónica nas palavras-chave “keys”, “please” e “leave”, são apenas amostras da capacidade de Lil Baby para agarrar o público do início ao fim. Os sucessivos bangers não deixam descansar os espectadores nem por um segundo, mesmo aqueles que desconhecem grande parte do reportório do segundo Lil da noite. “I ain’t gonna lie, I’m having a good time”, confessa ainda a meio caminho do espetáculo. Deste lado, a sensação é equivalente; mas a hora de Lil Yachty aproxima-se e, após o desvendar de “new shit”, a curiosidade leva-nos ao palco secundário para continuar a acompanhar a saga de Lils.

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O conterrâneo de Lil Baby já está a dar conta do Punx Stage. Chegamos a passo rápido, ainda com um olho na recta final do show abandonado; não podíamos, no entanto, perder os graves mais sonantes deste três dias. O Michigan Boy Boat, de fita na cabeça, características missangas transparentes à volta das finas tranças, e unhas pintadas com as cores de Portugal (não por mera coincidência, assim cremos), apoia-se consideravelmente mais nas faixas em rotação, enquanto canta com a boca por baixo da camisola.

Ainda assim, compensa na forma como incita a reduzida mas envolvida legião de fãs à sua frente. Os grandes hits à escala global chegam para fazer valer a vinda do Lil Boat, pela primeira vez, a Portugal: “iSpy” e “Broccoli são, claramente, as favoritas do público. Mas Lil Yachty quer subir a parada e avisa “we ‘bout to go fucking stupid”. É então que Trippie Redd aparece de surpresa, num regresso ao Punx Stage — encerrado pelo próprio no dia anterior —, para ambos, ex-cabeças vermelhas, rebentarem “some Pop Rocks”. Segue-se Ski Mask The Slump God na senda de segundas voltas na Praia da Rocha. O rapper da Florida, que atuou no palco principal debaixo do lusco-fusco, surge com a camisola alternativa, da última época, do Futebol Clube do Porto, enquanto o seu hype man enverga a principal, de riscas brancas e azuis.

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Risca azul em fundo branco é também a imagem de marca das dezenas (centenas, quem sabe…) de garrafas Vitalis atiradas por Lil Yachty e restante equipa para a plateia. O rapper pede ao público para que as guardem numa primeira fase. A distribuição prolonga-se por vários minutos, espera aligeirada pela banda sonora de fundo a la Super Mario. No grande ecrã, por trás dos artistas, lê-se “UNDER CONSTRUCTION”. No fim do abastecimento, e apesar do céu aberto em mais uma noite amena, as previsões meteorológicas mudam radicalmente: “Mase in ’97” provoca um dilúvio de água potável, de tal forma que, poucos depois, o sistema de som acusa problemas. Nova espera, desta vez sem grande margem. Não há tempo a perder num festival destes. Está na hora de descolar em direção ao planeta de “Baby Pluto”.

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De Lil Uzi Vert esperava-se uma viagem paralela à que Playboi Carti havia comandado — e na qual todos pareceram embarcar — a partir da mesma estação, 24 horas antes. E é exactamente isso que acontece, para o bem e para o mal, desde que entra de óculos escuros e calções de banho (a condizer com a larga maioria dos festivaleiros). Com dois cornos de cabelo espetado e um desconcertante deadpan no rosto, o “diabinho” vagueia pelo palco como um bebé zangado.

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A performance, essa, fica em segundo plano. Lil Uzi Vert, presumivelmente pago a peso de ouro, só tem a sua presença para oferecer. E, à semelhança do “vampiro” da noite anterior, esse pacote parece ser suficiente para levar uma imensa multidão ao delírio. O suposto cantor não canta, nem finge que canta. Traz um playback descarado e deixa que os fãs cantem por ele temas como “Sauce It Up”, “Movie”, “Do What I Want”, “That’s A Rack”, “Woke Up Like This”, ou “Of Course We Ghetto Flowers” (com, lá está, Playboi Carti).

Está, por outro lado, concentrado em fixar o olhar em determinados espectadores. Procura um amigo, perdido no mar de gente, com quem partilha um “group chat”. E lá o encontra: personagem caucasiana à deriva no palco ao som de “wokeuplikethis*” (tema de, adivinhe-se, Playboi Carti). “This is my friend, we talk everyday — for real. We found him in the croud”, esclarece Lil Uzi Vert. Pedro é o nome deste amigo improvável, que agradece o carinho recebido num momento, seguramente, inesquecível para o resto da sua vida.

Pelos vistos, ao contrário do que canta em “XO Tour Lif3” — no único momento musicalmente interessante do concerto —, nem todos os amigos de Lil Uzi Vert estão mortos. Muito menos os seus fãs. Ganham vida a cada mosh pit e, quando o rapper pergunta se querem que ele vá embora, não o deixam partir. Só com “Bad and Boujee” é que se dão por satisfeitos. Felizes os que se contentam com tão pouco.

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