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Depois do confinamento em casa, Carminho refugiou-se em estúdio. E criou um álbum que o Expresso viu nascer

Carminho no seu “ateliê criativo” instalado nos estúdios Namouche, em Lisboa
Carminho no seu “ateliê criativo” instalado nos estúdios Namouche, em Lisboa

Na pandemia, Carminho começou a juntar esboços de canções. Em março deste ano rumou a estúdio para um “ensaio gravado” com a sua banda. Do acaso despontou um novo álbum que o Expresso viu crescer e já ouviu

Eu sou muito organizada, como podem ver. Tenho muitos papéis, mas depois não me encontro.” É desta forma, descontraidamente irónica, que Carminho antecipa a conversa com o Expresso, rodeada de músicos e técnicos na régie dos míticos estúdios Namouche, em Lisboa. Explicando que deu início a um novo ciclo do seu percurso musical quando decidiu apresentar à sua banda os muitos esboços de canções que tinha e as pequenas melodias que foi gravando no telemóvel, a fadista defende que o “ateliê criativo” instalado no estúdio da Estrada da Luz foi um passo necessário mas um tanto ou quanto “luxuoso”. “Ter uma sala disponível durante tanto tempo, duas semanas, das 10h às 6h da tarde, só fazendo um acordo com uma pessoa tão generosa quanto o Quim.” Refere-se a Joaquim Monte, atual responsável pelo espaço, fundado em 1973, onde foram gravados álbuns incontornáveis de José Afonso, Xutos & Pontapés, Madredeus, Jorge Palma, Dulce Pontes, Buraka Som Sistema ou Carlos do Carmo. “São horas e horas de estúdio. As pessoas não o fazem porque é muito caro. Agora imaginem não saber bem se isto ia resultar num disco.” Mas vai. O sucessor de “Maria”, de 2018, ainda não está terminado e só deverá sair em 2023, mas as canções que o Expresso ouviu, em primeira mão, no penúltimo dia de gravações, em março passado, já estavam perto da forma final. “Gravar numa das salas mais inspiradoras que conheci na vida, e já conheci algumas, com os melhores microfones possíveis... Era óbvio que tinha esperança que nascesse um álbum.”

A captação das novas canções foi assegurada, precisamente, por Joaquim Monte, mas ao lado de Carminho esteve sempre a banda que a acompanha em palco: André Dias na guitarra portuguesa, Flávio Cardoso na viola de fado, Tiago Maia no baixo acústico, João Pimenta Gomes nos sintetizadores modulares e Mellotron e Pedro Geraldes, que este ano saiu dos Linda Martini, na guitarra elétrica e na guitarra lap steel. “São todos pessoas fantásticas... Somos muito amigos. E isto não é conversa, é uma coisa mais profunda”, confessa a fadista. “Tem a ver com esta disponibilidade, esta camisola vestida: nós estamos a fazer isto juntos.” A ideia de ir para estúdio surgiu depois de meses a convidar os músicos a escutar os tais esboços de canções e de tentarem, juntos, construir algo nos ensaios de som dos concertos. “Nunca conseguia ter a paz de espírito para dar o salto. Tínhamos logo de ir arrumar as coisas, ou jantar, ou já estávamos atrasados. Então, pensei: ‘Quem me dera ter tempo.’ Tempo para ouvi-los, também, para me darem sugestões, para haver troca de ideias. Até porque eu já ia com tudo bastante definido, da minha parte”, recorda. “Quando és compositor, já tens uma ideia das canções, mas acrescenta-te se estiveres aberto a que surjam pequenos detalhes ou sugestões. Portanto, tinha de proporcionar o ambiente, o tempo e a não pressão. Eu só vinha fazer um ensaio gravado, que ia ser especial, porque ia ter tempo de qualidade. Ninguém é obrigado a sair daqui com um take feito. Vamos tirando partido uns dos outros, do acaso, da experimentação, do erro, de coisas sem sentido. Surge sempre algo em que se pega. E depois as coisas saem, umas atrás das outras.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MRVieira@blitz.impresa.pt

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