Dois Radiohead encontram um baterista de jazz. Os Smile ainda agora chegaram e já são essenciais

Pensa-se geralmente na canção mais como fotografia e não como escultura. A canção é algo que retrata um momento, uma emoção, que conta uma história e que nasce já formada e aterra na mente criativa de quem compõe, umas vezes em descida lenta de paraquedas, outras de rompante, como um meteorito atraído pela força gravitacional de um qualquer corpo celeste. Mas pode também ser bloco de granito que esconde dentro uma essência, uma massa de palavras e melodias que depois é necessário ir burilando até que, já em disco, procura finalmente agarrar-se ao futuro. ‘Skrting on The Surface’, peça que encerra o alinhamento de “A Light for Attracting Attention”, o álbum de estreia dos The Smile — novíssima banda de Thom Yorke e Jonny Greenwood, dos Radiohead, e ainda de Tom Skinner, baterista ultrarrequisitado (Herbert, Angelique Kidjo, Jarvis Cocker...) que nos últimos tempos tem garantido o pulso aos Sons of Kemet — é um desses casos. O tema surgiu primeiro no site dos Radiohead por alturas da era de “OK Computer”, com letra algo diferente, ressurgiu na fase “Kid A” e foi tocada pela primeira vez ao vivo em 2009, com Thom ao piano. Os Radiohead ainda lhe ofereceram alguns arranjos, mas terá sido durante o confinamento, quando Thom e Jonny acharam por bem atirar-se a nova aventura, que ‘Skrting on the Surface’ ganhou a sua forma definitiva: voz processada, guitarra gentilmente dedilhada, e uma bateria líquida, propulsiva, de elegância jazzy a carregar tudo até à chegada das cordas da London Contemporary Orchestra. As comparações com a banda de Oxford serão inevitáveis, mas, como diria Dorothy em “O Feiticeiro de Oz”, “Toto, já não estamos no Kansas”.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.