Nídia tem-se afirmado, nos últimos anos, com o impulso da Príncipe Discos, como uma das mais elogiadas produtoras de música eletrónica saídas de Portugal. Na primeira noite do festival Sónar Lisboa, comandou as hostes no Pavilhão Carlos Lopes com um DJ set envolvente, que viajou do Brasil a Angola entre percussões tribais e projeções provocatórias sobre colonialismo e igreja. “Estão preparados para a saga, não é?”, questionou, mal entrou em palco. A resposta chegou numa hora de dança intensa.
O festim para os ouvidos passou por uma remistura épica de ‘O Sol’, do brasileiro Vitor Kley, a torção afro que aplicou ao êxito ‘Satisfaction’, de Benny Benassi, ou o grito de guerrilha ‘Niguém Foge’, dos angolanos Moikanos. Mas a performance de Nídia é, também, um festim para os olhos: entre as cores garridas com que pinta toda a imagética da sua música, de corações e gotas de sangue às unhas pintadas de vermelho de “Não Fales Nela Que a Mentes”, álbum que editou em 2020, mostra pinturas eclesiásticas corrompidas por strap-ons e imagens alusivas aos descobrimentos.
“O people está bonito”, diz, às tantas, “o meu nome é Nídia, sou da Príncipe Discos e estou aqui para animar a vossa noite. Vamos fazer uma brincadeira: eu digo 'Nídia é má' e vocês dizem 'Nídia é f*dida'”. Entre toda essa animação, em torno do nome do álbum que editou em 2017, afirma-se como a rainha do build-up, deixando a plateia pelo beicinho com as suas incursões pelo afro house e o exotismo das melodias sedutoras a que nos habituou em temas como ‘Popo’ ou ‘Capacidades’. Nídia só é má quando quer. Em palco, é muito boa.
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