Passaram-se quatro décadas e 12 autárquicas mas há pelo menos duas coisas que não mudaram em Avis. O concelho ainda hoje se mantém fiel aos comunistas e é um dos sete de todo o país onde abstenção nunca ultrapassou os 30%. As eleições autárquicas deste domingo vieram confirmar a história: só 28% dos habitantes não votaram e a CDU voltou a vencer.
Avis tem 4400 habitantes, fica no distrito de Portalegre, encostado ao distrito de Évora e apesar de ter perdido população nos últimos anos, à semelhança do que aconteceu em tantos outros sítios, o concelho continua ainda hoje a conseguir levar muita gente às urnas. Nas primeiras quatro autárquicas (1976, 1979, 1982 e 1985) Avis conseguiu bater o recorde de abstenção mais baixo de todo o país. Em particular nas eleições de 1979 – quando, a nível nacional, 26,2% dos portugueses não votaram – neste concelho alentejano só 7% dos habitantes não foram às urnas.
Assim, até hoje, passaram quatro comunistas pela presidência da câmara. José Correia Silva foi o primeiro, eleito pela FEPU em 1976, seguido por António Raimundo Bartolomeu que guiou a autarquia durante 22 anos (entre 1979 e 2001). Nas eleições de 2001, foi substituído por Miguel Libério Coelho que esteve à frente da autarquia entre 2001 e 2013, passando então o cargo para Nuno Silva que voltou a ser reeleito pela CDU este domingo com 61,44% dos votos.
As restantes exceções
O caso de Avis juntam-se outros seis concelhos com menos de 30% de abstenção: Penafiel (distrito do Porto), Fronteira, Monforte e Sousel (Portalegre), Portel (Évora) e Corvo (Açores). Até às últimas eleições de 2013, também o concelho do Alvito (distrito de Beja) fazia parte da lista. Contudo, este ano a abstenção subiu ligeiramente para os 31,5%.
A maior parte destes sete concelhos fica no Alentejo e quatro deles concentram-se no distrito de Portalegre. No entanto, ao contrário de Avis que foi sempre fiel ao mesmo partido, o mesmo não acontece com os restantes sete concelhos onde os partidos foram alternando.
Os resultados mostram, no entanto, que em Portel e Monforte a esquerda venceu sempre, ora com um autarca socialista, ora comunista. Já o caso de Sousel é o oposto: se nas primeiras autárquicas, o presidente de câmara eleito foi da FEPU, daí em diante – e só com a exceção de um autarca socialista escolhido em 1997 – o concelho manteve sempre um social-democrata à frente da câmara. Fronteira foi o que teve a abstenção mais baixa este ano (22,2%) entre estes sete.
Se há 41 anos, nas primeiras autárquicas, houve 62 concelhos com uma taxa de abstenção abaixo dos 30%, nas eleições deste domingo contam-se 49 concelhos na mesma situação. Da mesma forma, em 1976, a abstenção nas autárquicas ficou nos 35% (acima da abstenção das primeiras legislativas que foi de 16%), enquanto desta vez, na escolha dos autarcas para os próximos quatro anos, 45% dos portugueses não foram às urnas.
Ainda que com uma tendência crescente ao longo das últimas décadas, a abstenção baixou ligeiramente este ano — nas eleições locais anteriores tinha sido de 47,4%.
Os dados da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna mostram que Barrancos (19,11%), Arronches (21,87%) e Cuba (21,96%) se destacam este ano por serem os três concelhos com menos abstenção, tendo em comum localizarem-se todos no Alentejo, o que coincide com a tendência das últimas quatro décadas.
No extremo oposto, nestas eleições, houve cinco concelhos a ficar acima dos 57% de abstenção: fica Albufeira (60,71%), Portimão (58,84%), Sintra (7,7%), Amadora (57,3%) e Moita (57,1%). Historicamente, que desde 1976 há três concelhos que se mantiveram sempre acima dos 40% de abstenção: Pombal, Lagoa (Açores) e Ponta Delgada.