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Guimarães quer duplicar a zona classificada e procura harmonizar habitação e comércio no centro histórico

Guimarães quer duplicar a zona classificada e procura harmonizar habitação e comércio no centro histórico
RUI DUARTE SILVA

A candidatura foi apresentada: a zona de Couros preserva a memória dos curtumes, com os grandes tanques de pedra e as antigas fábricas e aguarda o veredito da UNESCO. No centro histórico, o desafio é manter a habitação e o comércio em harmonia. A câmara prepara a redução do espaço de esplanadas

Guimarães quer duplicar a zona classificada e procura harmonizar habitação e comércio no centro histórico

Marina Almeida

Jornalista

Guimarães quer duplicar a zona classificada e procura harmonizar habitação e comércio no centro histórico

Rui Duarte Silva

Fotojornalista

A Gracinda Ferreira ninguém a tira da Praça de S. Tiago onde nasceu há 72 anos nas mãos de uma parteira. Vive no coração de Guimarães, na zona classificada como Património Mundial pela UNESCO, numa casa com janelas para o largo cheio de esplanadas, bares, restaurantes e de turistas. “Há fotografias que vão para todo o lado comigo a estender a roupa. No outro dia passou uma excursão que era de Lisboa. Estava a chover e eu estava a apanhar a roupa e um senhor até disse ‘ó vizinha apanhe a roupa’”, conta bem-disposta.

Lá dentro, a casa de chão de madeira a fazer lembrar um barco antigo, enche-se de luz e dos objetos de uma vida que começou com os pais, depois com o marido e prossegue com a filha e o genro. A Gracinda não incomoda a estrutura antiga, característica daquelas habitações, nem a agitação da praça, cheia de esplanadas, restaurantes e bares, por vezes com música e risos altos noite dentro. Trabalhou 36 anos no cinema são Mamede, habituou-se a ver gente e à animação, numa alegria que transporta em todos os gestos. “Aprendi muita coisa, o cinema é uma escola. O primeiro filme que deu, em 1971, foi “O Desafio das Águias”, da guerra, sala cheeeiiiiiiaaaa”, recorda. O cinema tinha 1500 lugares e entre a bilheteira e levar os clientes aos lugares, Gracinda passou meia vida. Agora que está reformada não tem descanso. “Tenho as minhas amigas, tomo o pequeno-almoço fora, vou ao supermercado, volto para cozinhar, torno a sair, vou tomar café, venho fazer o jantar. Aos domingos vamos para a Penha no teleférico.”

Gracinda é uma das habitantes do centro histórico de Guimarães, área classificada desde 2001. Segundo o presidente da União de Freguesias de Oliveira, São Paio e São Sebastião, Rui Porfírio, há sete mil eleitores naquela área, uma população envelhecida, alguma a debater-se com o desconforto da animação noturna. Gracinda garante não se incomodar, já a filha, Carla, diz que teve de se habituar a adormecer ao som da música, admitindo que nem sempre descansa o necessário. Uma outra moradora na zona, que prefere não ser identificada, diz que “é uma pouca-vergonha”, com ruído até altas horas, sem que um polícia ali passe a por ordem na algazarra. E conta que há dias saiu à rua para pôr o lixo e mal tinha espaço, com a mesa de uma esplanada à porta de casa.

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