Café Expresso: O barbeiro do Lordelo, o jornalismo e o papel do Estado na comunicação social
NUNO BOTELHO
Na sala de ensaios do Teatro Municipal de Vila Real um grupo de assinantes do jornal assistiu e participou no Café Expresso, com uma conversa sobre o futuro do jornalismo na era das redes sociais e da inteligência artificial
Marina Almeida
“Não basta dizer que lemos uma notícia para termos a certeza de que aconteceu”. Rui Santos, presidente da Câmara Municipal de Vila Real, lançava alguns dos temas da conversa que decorreu esta tarde no Teatro Municipal da cidade transmontana. “Para termos boa imprensa, para termos boa comunicação, para continuarmos a acreditar que as notícias que lemos correspondem à verdade, temos de as pagar”, defendeu.
No centro de um painel, com João Vieira Pereira, diretor do Expresso, à direita, e Luís Mendonça, diretor do Jornal Vila Real e da Rádio Universidade FM, à esquerda, o autarca participou no Café Expresso, iniciativa que juntou assinantes do jornal numa conversa descontraída sobre temas atuais e urgentes.
Com a exposição dos 50 anos do Expresso acabada de inaugurar às portas do teatro, e o 25 de Abril às portas do calendário, reforçou-se o papel da comunicação social e do jornalismo para garantir a informação fidedigna, num mundo de desafios: o Chat GPT, a facilidade em falsear a informação e em construir uma (ir)realidade, com o exemplo recente da fotografia gerada por inteligência artificial ser premiada num concurso. “Eu acredito que se os jornais se mantiverem fiéis aquilo que são as suas bases de fundação, ao jornalismo, ao quarto poder, por muitos solavancos que aconteçam, é ali que as pessoas vão voltar”, disse João Vieira Pereira, dando como exemplo o aumento de venda em banca do Expresso durante a pandemia.
Exposição dos 50 anos do Expresso está em Vila Real, junto ao Teatro Municipal
NUNO BOTELHO
Luís Mendonça trouxe a imagem do barbeiro do Lordelo, que lhe diz entre tesouradas “’parece que’. O ‘parece que’ é o que está a existir na internet”, referiu. “Temos de repensar o que queremos do jornalismo e se acharmos que o jornalismo é importante temos de dar força aos órgãos de comunicação social”. A erosão da imprensa regional subiu ao debate, com Luís Mendonça – que também é Presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão e da Confederação de Meios de Comunicação Social -, a lembrar um estudo recente segundo o qual a maior parte dos concelhos do interior não tem nenhum meio de comunicação social. Em Vila Real, está a fazer informação com poucos recursos. “Devia haver uma ajuda do Estado a estes jornais, ou vão ficar ainda menos”.
Também Rui Santos defendeu apoios do Estado à comunicação social. O autarca socialista disse que “quanto mais forte for o órgão de comunicação social, mais forte é a democracia e a cidadania”, e defendeu regras claras para o Estado apoiar a imprensa: “Temos todos de perceber que o quarto poder é importante e tem custos”.
Café Expresso juntou alguns assinantes do jornal em Vila Real
NUNO BOTELHO
Numa plateia pontuada por alguns jovens, João Vieira Pereira foi agitando o telemóvel, dizendo que a juventude não lê em papel, e que também esse é um desafio para a imprensa. Naquela sala, apenas um jovem lia a versão impressa do Expresso, outros liam jornais online e duas amigas não liam jornais e viam as notícias na televisão – muito por influência familiar, admitiriam.
O diretor do Expresso falou-lhes no projeto Geração E, feito por jovens jornalistas da redação: “é um projeto escrito por jovens e para jovens com uma linguagem mais direta e o resultado é o crescimento exponencial da leitura de jovens”. Além disso, referiu a importância de “educar, de explicar aos alunos que têm de saber escolher muito bem aquilo em que se confia. Não se pode acreditar no barbeiro”.
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