Fotógrafo alemão recusa prémio depois de admitir que concorreu com imagem gerada por inteligência artificial
A fotografia vencedora de Boris Eldagsen
Boris Eldagsen
O fotógrafo Boris Eldagsen venceu o concurso Sony World Photography Awards, na categoria de Criatividade, mas garante que, com a sua participação, queria apenas suscitar debate
Boris Eldagsen diz que se inscreveu “como um macaco atrevido” no concurso Sony World Photography Awards para descobrir se as competições do género estão preparadas para discriminar imagens criadas através de inteligência artificial. “Não estão”, concluiu. O artista, que estudou Fotografia e Artes Visuais na Art Academy of Mainz, e Arte Conceptual na Academy of Fine Arts, em Praga, recusa agora receber o prémio na categoria de Criatividade pela sua fotografia que mostrava duas mulheres de gerações diferentes, a preto e branco, noticia o jornal “The Guardian”.
O fotógrafo alemão defende que a arte terá de iniciar um debate aberto sobre o que é fotografia e o que não é. “A abrangência da arte da fotografia deveria permitir a entrada a imagens criadas através de inteligência artificial, ou tal seria um erro? Com esta recusa [do prémio], espero acelerar esse debate.”
De acordo com Boris Eldagsen, trata-se de um “momento histórico”, porque nunca antes uma imagem criada através de inteligência artificial tinha vencido uma competição internacional de fotografia tão importante como aquela. Contudo, o fotógrafo resolve acicatar a reflexão pública: “Quantos saberiam ou suspeitariam de que a fotografia fosse gerada por inteligência artificial?” O fotógrafo chegou a considerar doar o prémio a um festival de fotografia realizado em Odessa, na Ucrânia, mas acabou por reconhecer que as duas modalidades de “arte” não devem competir entre si: “São entidades diferentes. Inteligência artificial não é fotografia, e, por isso, não aceitarei o prémio."
Um representante da Organização Mundial da Fotografia confirmou que Boris Eldagsen tinha assumido a “cocriação” da imagem - para a qual a inteligência artificial também contribuiu - antes mesmo de ser anunciado o vencedor: “Explicou-nos como, após duas décadas de fotografia, o seu foco artístico se alterou, de forma a explorar as possibilidades criativas da inteligência artificial e enfatizou que a imagem depende fortemente da riqueza de conhecimento fotográfico”. O porta-voz da organização justificou ainda que a categoria de Criatividade acolhe “várias abordagens experimentais para a criação de imagens, desde cianótipos e radiografias até utilização de tecnologia de ponta”. Foi assim que, após trocar correspondência com Boris Eldagsen, o júri sentiu que a inscrição preenchia os critérios para aquela categoria.
A organização preparava-se para abrir a discussão sobre o tema, com uma sessão de perguntas e respostas motivada pela vitória do fotógrafo alemão recorrendo a inteligência artificial. As atividades foram, no entanto, suspensas, após a recusa do artista. A Organização Mundial da Fotografia fez questão de vincar que, “embora as criações com inteligência artificial sejam relevantes em contextos artísticos, os prémios sempre foram, e continuarão a ser, uma forma de defender a excelência e a habilidade dos fotógrafos e artistas”.
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