50 anos do 25 de Abril

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que transformou o 25 de Abril na Revolução dos Cravos

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que transformou o 25 de Abril na Revolução dos Cravos

Celeste Caeiro, que tinha 91 anos, distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de abril de 1974


Morreu esta sexta-feira, aos 91 anos, Celeste Caeiro, a mulher que começou a distribuir cravos pelos militares no 25 de abril de 1974. A notícia foi avançada por uma neta, nas redes sociais, e posteriormente confirmada pela Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa, e pelo PCP, ao Notícias ao Minuto.

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A história já é mais do que conhecida e, ao Expresso, contou-a mais recentemente em 2018, numa reportagem sobre o incêndio de 1988 no Chiado.

Na quinta-feira 25 de Abril de 1974, quando chegou à porta da cafetaria onde trabalhava, o patrão disse-lhe que, apesar de o restaurante comemorar um ano de funcionamento, não iria abrir. Estava uma revolução a acontecer. Mas, antes de voltarem para casa, foi-lhes pedido para irem ao armazém e levarem as flores compradas para decorar a festa, evitando que se estragassem. “Estavam lá muitos baldes com cravos vermelhos e uma meia dúzia com cravos brancos, comprados no Mercado da Ribeira. Porque é que o gerente comprou cravos e não malmequeres ou rosas não sei, mas talvez estivessem mais baratos.”

Celeste agarrou num molho de cravos vermelhos e apanhou o metro de volta a casa. “Apeei-me no Rossio e vi as Chaimites. Estavam no início da Rua do Carmo, onde antes havia a Tabacaria Caravela e hoje está uma loja de lingerie.” Com um metro e meio de altura, Celeste olhou para o cimo do tanque e perguntou ao militar há quanto tempo é que ali estava. “Disse-me que era desde madrugada. E pediu-me um cigarro, que eu não tinha, porque nunca fumei. ‘Não tenho um cigarro, mas tenho um cravo’, disse-lhe. Tirei um, dei-lho, e ele pô-lo no cano da espingarda.” Depois distribuiu os cravos por todos, um por um, e seguiu para casa.

Da janela do quarto da pensão, no quinto andar da Calçada do Sacramento, onde nessa altura também vivia com a mãe, Celeste apontou para um tanque. “Está a ver os soldados com os cravos? Fui eu que lhos dei.” Quando chegou ao trabalho no dia seguinte, souberam que tinha sido ela a distribuir as flores — e a partir daí os patrões passaram a dar-lhe folga no 25 de Abril.

Ainda este ano, Celeste Caeiro esteve presente no desfile militar, em Lisboa, que assinalou os 50 anos do 25 de Abril. Ao distribuir cravos pelos presentes, recriando o momento que há meio século deu nome à Revolução, não escondeu o olhar emocionado.

Exército

No dia 7 de maio deste ano, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou, por unanimidade, a atribuição da medalha de honra da cidade a Celeste Caeiro, bem como uma “intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público”. Esta ainda não foi realizada, mas será, segundo o PCP — autor da proposta —, uma “justa homenagem” a um símbolo da Revolução.

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