COP27

"Isto não foi fácil. Trabalhámos longos dias e noites": presidência da COP27 louva "acordo histórico" apesar das dificuldades

Sameh Shoukry durante plenário final da COP27
Sameh Shoukry durante plenário final da COP27
MOHAMED ABD EL GHANY

Comunicado final da presidência egípcia da cimeira do clima elogia resultados alcançados "apesar das dificuldades e desafios do nosso tempo, da divergência de opiniões, nível de ambição ou apreensão" e reitera empenho na luta contra as alterações climáticas

Dois dias após o previsto, a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP27) chegou ao fim em Sharm El-Sheikh. No comunicado final, a presidência egípcia da cimeira louva o “acordo histórico” e o “salto para salvar vidas e meios de subsistência” dado na cimeira.

“O trabalho que conseguimos fazer aqui nas últimas duas semanas e os resultados que alcançámos juntos são uma prova da nossa vontade coletiva, como comunidade de nações, de expressar uma mensagem clara que ressoa alto hoje, aqui nesta sala e em todo o mundo: a diplomacia multilateral ainda funciona. Apesar das dificuldades e desafios do nosso tempo, da divergência de opiniões, nível de ambição ou apreensão, continuamos empenhados na luta contra as alterações climáticas. Levantámo-nos para a ocasião, defendemos as nossas responsabilidades e tomámos decisões políticas importantes e decisivas que milhões em todo o mundo esperam de nós”, afirmou o presidente da COP27, Sameh Shoukry, na sessão final do plenário.

“Isto não foi fácil. Trabalhámos o tempo todo. Longos dias e noites. Cansativos e por vezes tensos, mas unidos e a trabalhar por um só objetivo, um propósito maior, um objetivo comum que todos subscrevemos e ambicionamos alcançar. No final, entregámos.”

“Acordo histórico” para fundo de financiamento dos “particularmente vulneráveis”

No comunicado final enviado aos jornalistas, a presidência egípcia destaca igualmente as áreas onde foram alcançados progressos mais significativos. É o caso do “acordo histórico” que permitiu a aprovação de um fundo para financiar danos climáticos sofridos por países “particularmente vulneráveis”, uma resolução que foi aprovada em paralelo com a declaração final.

Este questão das perdas e compensações, defendida pelos países menos ricos mas também mais afetados pelas alterações climáticas, foi incluída pela primeira vez como um tópico central da agenda desta cimeira anual. O resultado obtido é visto como um dos “sucessos” da conferência em Sharm El-Sheikh.

“Ouvimos as chamadas e respondemos. Hoje, aqui em Sharm El-Sheikh, estabelecemos o primeiro fundo dedicado às perdas e danos, um fundo que há tanto tempo que estava a ser elaborado. Era apropriado que esta COP, a COP de implementação em África, fosse onde o fundo é finalmente estabelecido. Milhões em todo o mundo podem agora sentir um vislumbre de esperança de que o seu sofrimento será finalmente resolvido, de forma rápida e apropriada”, afirmou Sameh Shoukry.

Em termos práticos, o texto final estabelece novos acordos para a criação de fundos de apoio aos países em desenvolvimento que estão a lidar com os danos provocados pela alterações climáticas. Para tal será estabelecido um “comité de transição”, que ficará responsável pelas regras de funcionamento deste novo compromisso (incluindo a gestão do fundo de compensação).

Até à próxima COP (a 28.º prevista para o final de 2023), este grupo deverá elaborar as recomendações “para consideração e adoção” e inclusivamente definir os contribuintes.

Durante a cimeira, vários países - incluindo Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, França e Nova Zelândia - comprometeram-se em apoiar este sistema de compensações de forma a desbloquear as negociações sobre a ambição nos esforços de mitigação e adaptação. Juntam-se à Dinamarca e Escócia que já tinham assumido compromissos semelhantes.

Acordo de Paris continua “intacto” apesar de “ventos contrários globais”

O comunicado final da presidência louva também que o Acordo de Paris permanece “intacto” e “sem retrocessos”, uma vez que os “compromisso foram reafirmados e fortalecidos apesar dos ventos contrários globais”. Neste contexto, o acordo alcançado reitera o objetivo de limitar o aumento da temperatura média abaixo de 2°C relativamente aos níveis pré-industriais, assim como de continuar os esforços para limitar o aumento nos 1,5°C.

A declaração final reafirma a necessidade urgente de redução imediata das emissões dos gases com efeitos de estufa. Contudo, a ONU - na pessoa de António Guterres - já veio lamentar a falta de ambição revelada neste tema.

Por outro lado, “o acordo exige que bancos multilaterais de desenvolvimento e instituições financeiras internacionais reformem práticas e prioridades para garantir acesso simplificado ao financiamento climático”, explica o comunicado.

Quanto à energia, a declaração final da conferência pede uma “aceleração dos esforços para eliminar gradualmente o uso de ‘carbono sem captura’ e para a remoção dos subsídios ineficazes aos combustíveis fósseis". É também feito um apelo “à aceleração de transições limpas e justas para energia renovável”.

De fora fica a menção à redução do uso de petróleo e gás, desejada por muitos países.

Presidência egípcia de olhos no futuro e com “esperança renovada no futuro do planeta”

Durante o próximo ano, caberá à presidência egípcia da COP27 “zelar pela agenda global contínua sobre as alterações climáticas de acordo com o Plano de Implementação de Sharm El-Sheikh”.

Assim, o presidente Sameh Shoukry antecipou já o trabalho pela frente. “Deixamos Sharm El-Sheikh com esperança renovada no futuro do nosso planeta, com uma vontade coletiva ainda mais forte e mais determinação para atingir a meta de temperatura do Acordo de Paris."

"Acabamos de adotar o histórico Programa de Ambição de Mitigação e Implementação de Sharm El-Sheikh, que contribuirá enormemente para manter o 1.5 ao nosso alcance, e acredito que todos sabemos o que precisa ser feito para proteger o 1.5 e garantir que nunca iremos além.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: calmeida@expresso.impresa.pt

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