COP27

Ao fim de cinco dias da COP27, o que é que já foi alcançado? Muito pouco ou quase nada

O número de lobistas da indústria dos fósseis presentes nesta cimeira subiu para 636, o que representa um aumento de 25% em relação à COP26, em Glasgow
O número de lobistas da indústria dos fósseis presentes nesta cimeira subiu para 636, o que representa um aumento de 25% em relação à COP26, em Glasgow
MOHAMMED SALEM

Um plano de compensação de carbono dos EUA, uma falsa partida da China, uma união vaga entre Israel, Líbano e Iraque, e uma aliança global contra a seca — eis as principais medidas alcançadas até agora na 27.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas

Ao fim de cinco dias da COP27, o que é que já foi alcançado? Muito pouco ou quase nada

Mara Tribuna

Jornalista

Ao fim de quase uma semana de cimeira, as negociações em Sharm-el-Sheik deram ainda poucos frutos. As “perdas e danos” são o tema central da COP27 e alguns países ricos e poluentes, sobretudo da Europa, já disseram que tencionam compensar as nações mais afetadas pelas alterações climáticas, mas as palavras ainda não se tornaram atos.

Para já, os Estados Unidos apresentaram um plano de compensação de emissões de carbono. A China quase que se comprometia a contribuir para o financiamento climático. Israel, Líbano e Iraque — de relações cortadas — concordaram em trabalhar em conjunto para combater o aquecimento global. E Espanha e o Senegal lançaram uma aliança global contra a seca, da qual Portugal faz parte.

Eis as principais medidas alcançadas até agora na 27.ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, em Sharm-el-Sheik, Egito.

Um plano de compensação de carbono dos EUA

Os Estados Unidos anunciaram esta quarta-feira, na COP27, um novo plano de compensação de emissões de carbono, para ajudar os países em desenvolvimento a acelerar a transição para as energias renováveis, afastando-se dos combustíveis fósseis.

O anúncio foi feito por John Kerry, o enviado dos EUA para a cimeira. O chamado “Acelerador de Transição de Energia” assenta num esquema de mercado de carbono: as emissões de dióxido de carbono lançadas por empresas são compensadas mediante o princípio ‘pagador poluidor’, com o dinheiro a reverter para as nações com economias emergentes.

“A nossa intenção é usar o carbono para mobilizar capital que faça acelerar a transição de formas poluentes de produção de energia para renováveis, que permita encerrar centrais elétricas a carvão e tornar mais rápida a expansão das tecnologias de energias renováveis”, explicou John Kerry.

A Nigéria e o Chile já mostraram interesse neste plano, informou ainda o enviado especial norte-americano. O “Acelerador de Transição de Energia”, que envolve a compra e venda de créditos que representam poluição de carbono (o principal gás com efeito de estufa), pode estar operacional já a partir de 2023 e durar até 2035.

Mas os mercados de carbono suscitam sempre críticas. A medida foi criticada por grupos ativistas e organizações ambientalistas, que defendem que os Estados Unidos devem focar-se nos problemas reais: reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e apostar no financiamento climático aos países mais vulneráveis.

Mesmo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu na cimeira o fim da “dissimulação tóxica” das empresas e investidores que fazem promessas “falsas” de neutralidade de carbono, após um estudo reforçar que é preciso acabar com o investimento em fósseis e com a compensação acessível das emissões de gases com efeito de estufa.

Uma falsa partida da China

O enviado chinês à cimeira da ONU, Xie Zhenhua, começou por dizer que o país estava disponível para apoiar o mecanismo que compensa as “perdas e danos” causados aos países mais vulneráveis às alterações climáticas. Mas mais tarde, um porta-voz da delegação chinesa acrescentou que apoiar a compensação climática não implica contribuir efetivamente com dinheiro.

Como disse inicialmente Xie Zhenhua, a China — o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa — não tem “obrigação” de financiar as nações mais afetadas, até porque o próprio país também sofre com os eventos climáticos extremos. A China só iria apoiar este mecanismo por uma questão de “solidariedade para com aqueles que apelam a mais ação das nações ricas”.

“Apoiamos fortemente as reivindicações dos países em desenvolvimento, especialmente dos países mais vulneráveis, por reclamarem uma indemnização por perdas e danos, porque a China é também um país em desenvolvimento e nós também sofremos muito com fenómenos climáticos extremos”, afirmou o responsável chinês.

Porém, estas declarações foram mais tarde esclarecidas por um outro porta-voz da delegação chinesa na COP27: o país apoia a compensação climática mas, afinal, não vai contribuir com financiamento.

Uma união vaga entre Israel, Líbano e Iraque

Juntamente com outros países do leste do Mediterrâneo e do Médio Oriente, Israel, Líbano e Iraque concordaram em trabalhar em conjunto para combater o aquecimento global. A decisão é histórica, tendo em conta que Israel e o Líbano estão oficialmente em guerra, enquanto Israel e o Iraque não têm quaisquer relações diplomáticas.

“Os países da região partilham o mesmo clima quente e seco. Assim como partilham os problemas, podem e devem partilhar as soluções. Nenhum país pode ficar sozinho face à crise climática”, disse a ministra cessante da Proteção do Ambiente de Israel, Tamar Zandberg, citada pelo jornal “The New Arab”.

Porém, não é certo em que resultará, em concreto, esta união. O acordo diz que os países envolvidos trabalharão em conjunto para “fortalecer a cooperação regional” e “agir de forma coordenada” sobre as alterações climáticas.

Uma aliança global contra a seca

De resto, foi criada a “Aliança Internacional para a Resiliência à Seca” (IDRA). Já 29 países, incluindo Portugal, aderiram à iniciativa que foi lançada por Espanha e pelo Senegal na segunda-feira, o primeiro dia oficial da COP27. Também fazem parte desta aliança 30 organizações, desde ONGs a bancos de desenvolvimento.

O objetivo da IDRA é unir esforços e preparar os países envolvidos a responder ao grave problema que é a seca. Para tal, Espanha prometeu contribuir com 5 milhões de euros e o Quénia comprometeu-se a plantar 5000 milhões de árvores nos próximos cinco anos e 10.000 milhões numa década.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mtribuna@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate