COP27

“Centenas de pessoas” foram detidas por “apelos a protestos” na COP27, denuncia Amnistia Internacional

Uma ativista segura um cartaz onde se lê "Por favor não me comam", apelando ao não consumo de carne ou peixe, à entrada do centro de conferências
Uma ativista segura um cartaz onde se lê "Por favor não me comam", apelando ao não consumo de carne ou peixe, à entrada do centro de conferências
MOHAMED ABD EL GHANY

As detenções foram feitas pela polícia egípcia antes ainda da cimeira do clima começar. Das centenas de detidos, pelo menos 151 “estão atualmente a ser investigados pela Procuradoria Suprema de Segurança do Estado”, alerta a ONG

Só nas últimas duas semanas, as autoridades egípcias prenderam “centenas de pessoas” por “apelos a protestos durante a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27)”, denuncia a Amnistia Internacional. “É um lembrete da triste realidade da política egípcia de detenção arbitrária em massa para esmagar a dissidência”, lamenta a organização não governamental em comunicado.

O governo do Egito tem uma lei antiprotesto que proíbe a realização de qualquer reunião pública sem a aprovação do Ministério do Interior. Isto significa que a sociedade civil não pode mobilizar-se de modo a exercer pressão sobre as negociações climáticas na COP27, que começou este domingo e decorre até 18 de novembro na estância turística de Sharm el-Sheikh.

“Pelo menos 151 detidos estão atualmente a ser investigados pela Procuradoria Suprema de Segurança do Estado, enquanto centenas de outros se viram confrontados com detenções e interrogatórios mais curtos”, informa ainda a ONG de defesa dos direitos humanos. Importa lembrar que o Egito tem mais de 60 mil presos políticos e é o terceiro país do mundo que executa mais pessoas, segundo a Amnistia.

“A detenção de centenas de pessoas apenas porque eram suspeitas de apoiar o apelo a protestos pacíficos suscita sérias preocupações sobre a forma como as autoridades responderão às pessoas que desejem protestar durante a COP27 — uma característica essencial de qualquer conferência das Nações Unidas sobre o clima. As autoridades egípcias devem permitir que os manifestantes pacíficos se reúnam livremente e se abstenham de utilizar a força ilegal ou detenções arbitrárias para dissuadir os protestos”, pede o diretor de Investigação e Defesa da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Philip Luther, citado no comunicado.

Ao contrário das cimeiras anteriores realizadas em países democráticos, os ativistas conseguiam organizar protestos e marchas pela justiça climática livremente. Porém, este ano, apenas estão autorizadas algumas manifestações num edifício adjacente ao centro de conferências, vigiado por câmaras. Os protestos só são autorizados entre as 10h e as 17h, e devem ser comunicados às autoridades com 36 horas de antecedência, mediante a apresentação de um crachá da COP27.

A Amnistia Internacional alerta ainda que os líderes mundiais que chegam a Sharm El-Sheikh não devem ser enganados pela campanha de relações públicas do Egito. “Longe dos deslumbrantes hotéis de luxo, milhares de indivíduos, incluindo defensores dos direitos humanos, jornalistas, manifestantes pacíficos e membros da oposição política, continuam detidos injustamente”. A ONG sublinha que o presidente Abdelfattah al-Sisi deve ser instado a libertar todas as pessoas detidas arbitrariamente pelo exercício dos seus direitos humanos.

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