COP27

“Estamos numa autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”: o discurso inaugural de António Guterres na COP27

O discurso do secretário-geral das Nações Unidas marcou o início da COP27: "Estamos numa autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador"
O discurso do secretário-geral das Nações Unidas marcou o início da COP27: "Estamos numa autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador"
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O secretário-geral das Nações Unidas abriu a 27.ª conferência sobre alterações climáticas com um tom mais urgente do que nunca: “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer”. Para evitar “o caos climático irreversível”, Guterres propôs “um Pacto de Solidariedade Climática” para reduzir seriamente as emissões dos países

“Estamos numa autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”: o discurso inaugural de António Guterres na COP27

Mara Tribuna

Jornalista

“No início da COP27, apelo a um pacto histórico entre economias desenvolvidas e emergentes: um pacto de solidariedade climática”. Perante os líderes reunidos na abertura da 27.ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, no Egito, António Guterres alertou que a humanidade está a aproximar-se “perigosamente do ponto de não retorno”.

“Estamos na luta das nossas vidas. E estamos a perder. As emissões de gases com efeito de estufa continuam a crescer. As temperaturas globais continuam a aumentar. E o nosso planeta aproxima-se rapidamente de pontos de rutura que tornarão o caos climático irreversível”, anunciou com preocupação o secretário-geral das Nações Unidas.

Diante de centenas de líderes mundiais, na estância turística de Sharm-el-Sheik, onde está a começar a grande cimeira pelo clima, Guterres disse mesmo: “Estamos numa autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”. Para ilustrar bem o problema, o secretário-geral da ONU afirmou que “o objetivo dos 1,5º C é o suporte de vida, mas as máquinas estão a tremer” [veja o discurso a partir do minuto 22].

António Guterres referia-se ao aumento da temperatura global fixado no Acordo de Paris, em 2015. É expectável que dentro de duas décadas se atinja o limite dos 1,5 graus Celsius, porque os países não estão a cumprir com os compromissos que assumiram. “Estamos a aproximar-nos perigosamente do ponto de não retorno”, alertou. Atualmente, o aumento da temperatura já é de pelo menos 1,1º C relativamente ao período pré-industrial.

“A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer” e para evitar a última opção, Guterres propôs um pacto “em que todos os países façam um esforço extra para reduzir as emissões nesta década, de acordo com o objetivo dos 1,5 graus”. “É um Pacto de Solidariedade Climática, ou um Pacto Coletivo de Suicídio”, advertiu.

Ao longo das duas semanas em que decorre, a COP27 vai reunir representantes de 198 países ou blocos signatários da convenção. Mas há ausências bem notadas, como os líderes da China, Rússia e Índia. O secretário-geral das Nações Unidas apontou ainda o dedo às “duas maiores economias: os EUA e a China têm uma responsabilidade particular em unir esforços para tornar este pacto uma realidade”.

Guterres abordou ainda um assunto que será vital — e dominante — nesta 27.ª conferência pelo clima: a compensação de “perdas e danos” por parte dos países ricos e poluentes às nações mais afetadas pelas alterações climáticas. “Aqueles que menos contribuíram para a crise climática estão a colher o redemoinho semeado por outros”, condenou.

Esta segunda-feira, uma análise publicada pelo Carbon Brief dá conta de falhas no financiamento climático, no valor de milhares de milhões de euros. “As perdas e danos já não podem ser varridas para debaixo do tapete. Trata-se de um imperativo moral. É uma questão fundamental de solidariedade internacional e de justiça climática”, apelou por último.

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