UE assina compromisso mínimo de redução de emissões em ambiente de divergência
Este compromisso surgiu apenas para os 27 não chegarem de "mãos vazias" à Assembleia Geral da ONU na próxima semana e à COP30, que decorrerá em novembro no Brasil
Este compromisso surgiu apenas para os 27 não chegarem de "mãos vazias" à Assembleia Geral da ONU na próxima semana e à COP30, que decorrerá em novembro no Brasil
Os 27 Estados-membros da União Europeia aprovaram hoje, em Bruxelas, um compromisso mínimo para a redução das suas emissões de gases com efeito de estufa até 2035, numa decisão muito dividida.
Segundo fontes citadas pela agência noticiosa francesa AFP, este compromisso surgiu apenas para os 27 não chegarem de "mãos vazias" à Assembleia Geral da ONU na próxima semana e à COP30, que decorrerá em novembro no Brasil.
Sem chegarem a uma decisão definitiva, os 27 Estados-membros aprovaram uma faixa de redução das suas emissões entre -66,25% e -72,5% em relação a 1990, que será refinada caso cheguem a um acordo nas próximas semanas ou meses, adianta a AFP.
A Dinamarca, que detém atualmente a presidência rotativa da União Europeia (UE), apresentou este compromisso para mostrar que a Europa não renunciou à sua liderança ambiental, apesar das diferenças entre os Estados.
O assunto era urgente e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deverá defender as ambições climáticas da Europa na próxima quarta-feira, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU e na COP30, a principal conferência climática da ONU, que começa a 10 de novembro.
O documento aprovado hoje, após duras negociações entre ministros do Ambiente reunidos numa cimeira em Bruxelas, é apenas uma "declaração de intenções" e não um compromisso firme, adiantam as fontes citadas pela AFP.
"É uma não decisão", criticou o eurodeputado centrista Pascal Canfin.
Está "longe do ideal", mas "é a melhor opção" nesta fase, alertou Elisa Giannelli, do "think tank" E3G, acrescentando que "permite à UE salvar a face internacionalmente".
Os europeus estão satisfeitos com isso porque não conseguem chegar a um acordo sobre a sua meta climática para 2040, acrescenta a AFP.
O comissário europeu Wopke Hoekstra procurou tranquilizar as opiniões, afirmando estar "convencido" de que os europeus conseguirão "resolver a questão de 2040 antes da COP30, em Belém", no estado brasileiro do Pará, disse.
"Em última análise, continuaremos a ser os mais ambiciosos ou entre os mais ambiciosos" em questões climáticas, insistiu.
A reunião dos ministros do Ambiente de hoje ficou marcada por divergências profundas, referindo a AFP que a UE, abalada pela ascensão da extrema direita nas eleições europeias de junho de 2024, está muito menos proativa em questões ambientais do que na legislatura anterior.
A ecologia luta para encontrar um lugar na agenda, num contexto geopolítico tenso, numa altura em que parece cada vez mais distante a meta proposta pela Comissão Europeia de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 90% até 2040, em comparação com o estipulado em 1990.
Dinamarca, Suécia e Espanha pressionam por esta meta, mas países como a Hungria e a República Checa opõem-se, em nome da proteção de suas indústrias, e a França permanece cautelosa.
A Comissão Europeia teve uma iniciativa no início de julho passado, ao propor flexibilidade no método de cálculo, abrindo a possibilidade de adquirir créditos de carbono internacionais, de até 3% do total, que financiariam projetos fora da Europa.
Contudo, a Comissão Europeia manifestou-se hoje confiante de que a UE continuará a assumir "um papel de liderança" nas metas climáticas, apesar das divisões internas sobre a trajetória de redução das emissões de gases poluentes até 2040.
A ministra do Ambiente portuguesa, Maria da Graça Carvalho, rejeitou hoje que a União Europeia tenha feito uma marcha-atrás nos objetivos para debelar as alterações climáticas, apesar de os governantes quererem deixar as decisões para o Conselho Europeu.
Em declarações aos jornalistas, enquanto ainda decorria uma reunião ministerial em Bruxelas, capital belga e onde estão localizadas as principais instituições europeias, Graça Maria Carvalho rejeitou que haja um recuo nas ambições climáticas.
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