“Novo plano estratégico da Sonae prevê uma redução de 53% das emissões de CO2 até 2032”
No dia em que a Sonae desvenda a nova estratégia para quadriénio 2023-2026, a diretora de sustentabilidade do grupo revela ao Expresso SER as novas metas que passam por uma redução mais agressiva da pegada carbónica. A empresa também está a ser mais exigente na relação com os seus fornecedores, incluindo nos contratos cláusulas relacionadas com requisitos ambientais e sociais
O grupo Sonae apresentou uma nova estratégia de sustentabilidade para quadriénio 2023-2026 onde garante que as novas decisões de gestão, como novos investimentos, vão passar a ser avaliadas tendo em conta critérios ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança). Leia aqui os pormenores da nova estratégia.
A empresa liderada por Cláudia Azevedo garante que no período de 2019 a 2022 conseguiu melhorar a sua pegada ecológica, com as emissões de gases com efeitos de estufa a serem reduzidas em 24%. Numa entrevista por escrito ao Expresso SER, Sónia Cardoso, diretora de sustentabilidade do grupo, diz que a holding fixou, entretanto, um objetivo mais ambicioso: “definimos nesta revisão estratégica uma meta de médio prazo, adicional aos resultados já atingidos em 2022, de redução de 53% das emissões de CO2 até 2032”.
Além de olhar para dentro de casa, a empresa também vai apertar os critérios na relação com os seus fornecedores, até porque está quase a chegar uma nova diretiva sobre este tema, a do dever de diligência. Sobre a relação da Sonae com os fornecedores, Sónia Cardoso garante que pretende incentivá-los “a desenvolver as melhores práticas ambientais e sociais e, por sua vez, a influenciarem os seus próprios fornecedores e criar cadeias de abastecimento responsáveis. Atualmente já existem nos contratos cláusulas relacionadas com requisitos ambientais e sociais e são realizadas auditorias regulares de forma a garantir o seu cumprimento”.
A circularidade é outra das apostas do grupo para alcançar a neutralidade carbónica em 2040 e a responsável pela sustentabilidade dá alguns exemplos concretos: “No que toca a novas formas de servir o cliente, realizamos serviços de reparação de roupa como o Infinity, a venda de telemóveis recondicionados com a linha Reuse, ou a disponibilização de produtos a granel através do Refill Spot”. O grupo Sonae, recorde-se, tem negócios e interesses em várias áreas, que vão desde o retalho às telecomunicações, passando pela tecnologia, imobiliário e serviços financeiros.
A empresa assegura que baixou em 24% das suas emissões de CO2 com a sua estratégia desustentabilidade 2019/2022. Qual é o target de redução previsto para o período 2023/2026? As empresas do grupo têm vindo a implementar roadmaps efetivos de redução de emissões de gases com efeito de estufa desde 2019, que se traduziram na redução de 24% das nossas emissões em 2022 face a 2018. Tendo em vista o objetivo global de atingir a neutralidade carbónica das nossas operações em 2040, definimos nesta revisão estratégica uma meta de médio prazo, adicional aos resultados já atingidos em 2022, de redução de 53% das emissões de CO2 até 2032. Como gestora de portfólio, reforçámos a orientação às nossas empresas para a definição de metas alinhadas com a ciência, fundamentadas em planos de ação que nos permitam melhorar a nossa pegada carbónica.
Reiteram a meta de atingir a neutralidade em 2040. O que é que a empresa irá fazer de concreto para reduzir a sua pegada carbónica? Sim, estamos comprometidos com objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2040. Para alcançar este objetivo vão ser aprofundados os esforços de mitigação e redução de emissões, inclusive revendo processos e adotando tecnologias de ponta que nos permitam ser ainda mais ecoeficientes, reduzir a nossa dependência de recursos fósseis e aumentar gradualmente a nossa autonomia energética a partir de fontes renováveis. Complementarmente, vamos investir em medidas de compensação de emissões de GEE inevitáveis, como por exemplo através da Floresta Sonae, que hoje já contribui como uma importante fonte de captura de CO2 com cerca de 275 mil árvores associadas.
Quais são os negócios da Sonae que estão mais atrasados e mais adiantados no objetivo de reduzir as emissões de CO2? A comissão executiva da Sonae reconhece o esforço e empenho de todos os negócios em prol do planeta e das pessoas, e da forma como têm evoluído na implementação de ações transformadoras. Com esta revisão estratégica, todos os negócios atuais da Sonae, tendo por base princípios claros e comuns e respeitando a autonomia e as especificidades dos seus negócios, reviram e definiram os seus planos de sustentabilidade. Considerando as suas cadeias de valor, os seus impactes materiais e onde poderão fazer uma maior diferença, identificaram compromissos com a sustentabilidade que fazem sentido para o seu contexto procurando criar valor positivo para o planeta e para as pessoas.
A empresa diz que vai introduzir, formalmente, critérios ESG nas decisões de investimento e de gestão. Como é que isso será feito na prática? Haverá algum mecanismo de controlo? A Sonae é uma gestora ativa de um portfólio diversificado, com presença em múltiplos setores. O grande diferencial face à estratégia anterior assenta num pilar basilar: a gestão integrada com critérios ESG, desde o momento em que selecionamos, avaliamos e compramos uma empresa, e que passa a integrar o Grupo. Trata-se de princípios, compromissos e ações orientadoras que norteiam as empresas na integração da sustentabilidade no seu modus operandi. Neste pilar, vamos formalizar uma política de investimento responsável, que se traduz em procedimentos de avaliação e gestão de risco e de análises de due dilligence, que nos permitam tomar decisões de investimento sistémicas e mais fundamentadas.
“Vamos investir em medidas de compensação de emissões de GEE inevitáveis, como por exemplo através da Floresta Sonae, que hoje já contribui como uma importante fonte de captura de CO2 com cerca de 275 mil árvores associadas.”
A estratégia da empresa passa por “assegurar cadeias de abastecimento social e ambientalmente responsáveis”. Que mecanismos estão a desenvolver para garantir que os vossos fornecedores também estão a adotar práticas sustentáveis? Os negócios estão a trabalhar ativamente em robustecer os seus programas e processos de gestão de fornecedores, nas diferentes etapas de interação com seus parceiros de negócio. Enquanto pretendemos gerir o nosso risco ESG face à nossa cadeia de fornecimento, pretendemos incentivar os nossos fornecedores a desenvolver as melhores práticas ambientais e sociais e, por sua vez, a influenciarem os seus próprios fornecedores e criar cadeias de abastecimento responsáveis. Atualmente já existem nos contratos cláusulas relacionadas com requisitos ambientais e sociais e são realizadas auditorias regulares de forma a garantir o seu cumprimento, sendo que esta prática tenderá a reforçar-se no futuro, sempre em articulação com os nossos parceiros e em benefício do contexto socioeconómico e ambiental.
A empresa apresenta como meta “assegurar o aumento da circularidade dos produtos e serviços”. Podem dar um exemplo de algo concreto que a empresa tem feito ou vai fazer neste domínio da circularidade? Temos vários projetos que contribuem para a circularidade da economia,procurando novos modelos de produção e consumo, que visem a preservação dos recursos e sistemas naturais, desde a moda ao retalho alimentar. No âmbito do ecodesign das embalagens dos nossos produtos de marca própria, temos resultados visíveis das melhorias que temos vindo a realizar em matéria de reciclabilidade. Por exemplo, atingimos 80% de embalagens de plástico face à ambição de 100% de embalagens recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis, até 2025, nas nossas marcas próprias. No que toca a novas formas de servir o cliente, realizamos serviços de reparação de roupa como o Infinity, a venda de telemóveis recondicionados com a linha Reuse, ou a disponibilização de produtos a granel através do Refill Spot. Dada a diversidade dos nossos setores e a urgência em mudar para um sistema circular, este é um modelo de negócio que estamos a fomentar e onde pretendemos reforçar o investimento com várias iniciativas.
Sobre a relação com as comunidades locais, a Sonae garante que quer apostar na educação. Podem dar algum exemplo concreto de alguma ação que a empresa já fez ou vai fazer neste tema da educação? A educação está no centro da nossa política de responsabilidade corporativa, pois acreditamos que é promotora de igualdade de oportunidades e de uma sociedade mais justa. Nesse sentido, desenvolvemos projetos em escolas para apoiar alunos em situações de risco e investimos na qualificação e requalificação das pessoas. Entre as várias iniciativas, este ano lançámos o Prémio Sonae Educação no valor de 100 mil euros para distinguir e apoiar projetos inovadores de melhoria dos modelos de aprendizagem e de promoção do acesso à Educação, contribuindo para eliminar ou mitigar fatores de desigualdade ou exclusão social.
Estamos também a contribuir ativamente para a educação e requalificação para os empregos do futuro, como um dos promotores do programa europeu R4E (Reskilling for Employment) e do seu braço nacional PRO_MOV. A ambição do R4E passa por requalificar 20 mil pessoas nos próximos anos, contribuindo para a valorização dos formandos e para dotar a economia nacional dos recursos humanos necessários ao seu desenvolvimento. Fechamos o ano 2022, com 7 laboratórios de educação envolvendo mais 100 participantes.
A Sonae garante que 39% dos cargos de liderança já são desempenhados por mulheres. Qual é o target neste indicador? Para quando a paridade? A nossa ambição é atingir a paridade, sendo que sabemos que é um caminho longo e progressivo. Em apenas três anos aumentámos em 5 pontos percentuais a presença de mulheres em posições de liderança, mas mais importante, criámos condições para facilitar o desenvolvimento pessoal e profissional das nossas colaboradoras e alargámos o nosso pipeline de talento feminino. Acreditamos que estamos a contribuir ativamente, com a implementação de um conjunto de iniciativas diversas, para um ambiente de trabalho mais inclusivo e igualitário.