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Metade das empresas portuguesas tem um administrador com o pelouro da sustentabilidade

Metade das empresas portuguesas tem um administrador com o pelouro da sustentabilidade
Horacio Villalobos/Getty Images

A conclusão é de um inquérito que o BCSD fez junto de 67 empresas com atividade em Portugal: ao nível da gestão de topo, metade das empresas (48%) já tem um administrador responsável pela área da sustentabilidade. No entanto, apenas 35% das empresas preocupa-se com a sustentabilidade dos seus fornecedores

O Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal fez um inquérito junto de 67 das 181 empresas que assinaram a Carta de Princípios, um documento que compromete as empresas com uma transição ativa rumo à sustentabilidade. As empresas que subscreveram essa carta comprometeram-se a fazer um percurso até 2030 com vista a melhorar as suas práticas de ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança) e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Este caminho pressupões seis etapas: 1) Despertar, 2) Conhecer, 3) Construir, 4) Comunicar, 5) Consolidar e 6) Coliderar nas boas práticas.

A primeira grande conclusão do inquérito – realizado junto de 67 empresas (30 grandes, 31 PME e 6 microempresas) – é que 21% das empresas ainda se encontram num estado bastante incipiente nesta jornada em direção à sustentabilidade (na tal fase de despertar) e uma grande maioria (68%) ainda se encontra nas etapas iniciais da jornada (Conhecer e Construir).

Entre as 67 empresas que foram alvo deste estudo, 45% são grandes, 46% são PME e 9% são microempresas de vários setores de atividade (ver gráfico em baixo). Olhando para o relatório, também é fácil concluir que o tamanho conta no momento de ter práticas mais ou menos amigas do ambiente e socialmente responsáveis. O estudo mostra que nas etapas iniciais da jornada de sustentabilidade “encontram-se sobretudo microempresas e PME, sendo as grandes empresas aquelas que já se posicionam em etapas mais maduras da jornada de sustentabilidade”.

Este estudo também procura perceber se a sustentabilidade é algo que as empresas estão a incorporar na sua estratégia e a conclusão é que a grande maioria (93%) inclui um compromisso de sustentabilidade na sua missão/visão formal. Destas empresas, 56% incluem um compromisso geral (por exemplo, combate à pobreza ou preservar o ambiente) e as restantes 44% incluem um compromisso específico (por exemplo, igualdade de género, reutilização de resíduos ou comunidade educativa local).

Mas uma coisa é escrever algumas boas intensões no sítio de internet da empresa ou nos relatórios e contas e outra, bem diferente, é integrar esses valores na estratégia de negócio. Ainda que 93% das empresas incluam um compromisso de sustentabilidade na sua missão/visão, apenas 78% dizem integrar a sustentabilidade na estratégia de negócio. E quando se pergunta às mesmas companhias se desenvolvem e monitorizam a sua estratégia de sustentabilidade, a percentagem afunila-se para 55%.

Para seguir uma estratégia sustentável também é preciso ter quadros e gestores aptos e com formação para o fazer, e nem todas as empresas os têm. A maioria das empresas (73%) opta por ter uma estrutura interna que trabalha a sustentabilidade (responsável, equipa ou departamento). Destas, 29% dispõem de colaboradores responsáveis pela sustentabilidade que não têm sequer formação ou experiência na área. Ao nível da gestão de todo, cerca metade (48%) já designa um administrador que fica com o pelouro da sustentabilidade.

Olhando para um nível mais abaixo na hierarquia corporativa, mais de metade (55%) refere que capacita os seus colaboradores para a sustentabilidade e uma percentagem considerável (38%) apenas sensibiliza os colaboradores. Ainda assim, apenas um número reduzido de empresas (7%) não implementa nenhuma ação de sensibilização interna nem capacita os colaboradores.

Apensa 35% preocupa-se com os fornecedores

Uma coisa é a teoria e outra bem diferente é a prática. Além da estratégia e de pessoas para a executar, o inquérito do BCSD Portugal procura ver se estas empresas estão a fazer coisas concretas para executar a estratégia de sustentabilidade. A grande maioria (88%) assume que já implementa instrumentos e práticas de sustentabilidade. “Os instrumentos e práticas mais adotados são os sistemas de gestão certificados (61%), as políticas e códigos corporativos (48%) e os sistemas de gestão internos (40%). Por outro lado, os instrumentos e práticas menos adotados são as certificações e rótulos de produtos/serviços (22%), as metodologias de otimização de processos (24%) e a subscrição de iniciativas ou compromissos que monitorizem o desempenho da empresa (31%)”, lê-se no estudo.

Em termos de inovação, 45% das empresas neste estudo revelam que já criaram um novo produto/serviço com base em critérios de sustentabilidade e 27% assume que já transformou totalmente o seu negócio segundo critérios de sustentabilidade.

A responsabilidade de ter práticas sustentáveis não se esgota na esfera da própria empresa e este inquérito procura também perceber a exigência que os gestores têm para com as outras empresas que fornecem bens e serviços. E aqui não saem muito bem na fotografia: 23% afirmam que solicitam o reporte de indicadores de sustentabilidade aos seus fornecedores, clientes e/ou parceiros e apenas 35% assume que avalia, regularmente, os seus fornecedores em termos de risco de sustentabilidade.

Preferem o clima à governança

A fase seguinte neste caminho rumo à sustentabilidade é produzir um relatório a explicar à comunidade e aos stakeholders o que está a ser feito neste âmbito ESG. Esta comunicação é importante sobretudo para as grandes empresas que assim podem integrar índices e benchmarks internacionais.

O estudo do BCSD Portugal conclui que cerca de metade das empresas (54%) já produz um relatório de sustentabilidade, mas apenas 15% o fazem seguindo todas as boas práticas recomendadas.

Um terço das empresas (33%) revela já ter recebido algum prémio de sustentabilidade e cerca de um quinto (19%) afirma participar em índices e/ou ratings de sustentabilidade, tais como o DJSI, o FSTE4Good, o Ethicsphere, o CDP, o Sustainalytics, o EcoVadis, o MSCI e ainda o Bloomberg Gender-Equality Index.

Quando se pede às empresas para hierarquizarem os temas ESG que mais trabalham, sem grandes surpresas os temas ambientais aparecem como os mais endereçados (70%), seguidos dos temas sociais (59%) e, por último, da governança (56%).

Olhando para cada letra isolada do ESG, o estudo conclui que nos temas ambientais (E), “o clima é bastante endereçado desde uma fase inicial da jornada de sustentabilidade, enquanto a biodiversidade é o tema ambiental menos endereçado”. Ao analisar a evolução dos temas sociais (S), “é possível identificar que a prevenção, saúde e segurança, a par da igualdade, diversidade e inclusão, são bastante endereçadas desde as primeiras etapas. Já o tema dos direitos humanos, assim como a capacitação para a sustentabilidade vão ganhando peso, dentro das empresas, ao longo das etapas. Por contraste, o tema das comunidades locais não apresenta uma grande evolução ao longo das etapas de maturidade”. Finalmente o (G) de governança; aqui é possível constatar “que a validação externa é um tema bastante endereçado em todas as etapas e que todas as empresas posicionadas nas últimas três etapas realizam relatórios de sustentabilidade”.

Em suma, concluem os responsáveis do BCSD Portugal, “apesar das empresas já considerarem a sustentabilidade necessária aos seus negócios e já implementarem ações e iniciativas nesta área, ainda existem diversas oportunidades de melhoria, principalmente ao nível da implementação de estratégias robustas e que deem resposta aos principais impactes e dependências das empresas e suas cadeias de valor”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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