Um estudo do CDP (Carbon Disclosure Project) e da consultora Oliver Wyman, publicado esta quinta-feira, conclui que cerca de metade das empresas europeias assumem ter planos de transição climática para cumprir a meta do aquecimento global abaixo dos 1,5°C, mas menos de 5% mostram progressos significativos no desenvolvimento de um plano para atingir esse mesmo objetivo.
Afunilando o estudo para a realidade nacional, constata-se que as empresas portuguesas têm um desempenho ligeiramente melhor do que a média europeia, com 6% das empresas consideradas como estando num patamar “avançado” e 49% em “desenvolvimento” para atingir o objetivo dos 1,5 °C. Recorde-se que no Acordo de Paris, os governos acordaram em manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2 °C em relação aos níveis pré-industriais e em canalizar esforços para limitar o aumento a 1,5 °C.
O pano de fundo deste estudo do CDP e da Oliver Wyman é a nova diretiva relativa ao “dever de diligência das empresas em matéria de sustentabilidade”. Esta diretiva estabelece regras sobre as obrigações das grandes empresas no que diz respeito “aos efeitos negativos, potenciais ou reais, nos direitos humanos e no ambiente, no que diz respeito às suas próprias operações, às das suas filiais e às realizadas pelos seus parceiros comerciais”.
Esta diretiva, – proposta pela Comissão Europeia em fevereiro do ano passado e ainda à espera de um consenso final entre a Comissão, Parlamento e o Conselho Europeu, – vai obrigar as empresas a adotarem um plano que garanta que o seu modelo de negócio e a sua estratégia sejam compatíveis com o Acordo de Paris. A aplicação deverá abranger todas as empresas com mais de 500 trabalhadores e com uma faturação a nível global de mais de 150 milhões de euros.
A lei da União Europeia vai assim obrigar, em breve, todas as empresas a comunicarem um plano de transição climática rumo ao objetivo 1,5°C e a divulgarem os impactos da sustentabilidade no seu relatório anual de gestão. Para perceber o grau de preparação das empresas para esta nova diretiva, que depois ainda terá de ser transposta a nível nacional, a Oliver Wyman e a organização sem fins lucrativos CDP Europe Report foram analisar os dados de empresas que representam cerca de 75% da capitalização dos mercados bolsistas europeus e chegam à conclusão que a grande maioria ainda não fez o suficiente.
"A regulamentação da União Europeia irá apertar em breve e passará a ser obrigatório as empresas terem planos claros que façam a transição dos seus modelos de negócio para uma meta de 1,5 °C. Este relatório mostra que apenas uma pequena minoria de empresas, menos de 5%, revela todos os dados de que precisamos para as avaliar”, resume Maxfield Weiss, diretor executivo do CDP.
Portugal acima da média europeia
Na análise país a país, os nórdicos são aqueles que saem melhor na fotografia, sendo que em Portugal 6% das empresas estão num grau considerado “avançado” para atingir a meta dos 1,5 °C, um valor baixo, ainda assim acima dos 5% da média europeia. Aliás, neste indicador, Portugal surge à frente de países como o Reino Unido (5%), a Irlanda (4%), a Bélgica (3%), a França (2%), a Espanha (1%) e a Itália (0%). No nível “avançado” estão as empresas que têm, simultaneamente, um objetivo de redução de emissões de carbono alinhado com a meta de aquecimento global de 1,5°C e reportam informação na maioria (dois terços) dos indicadores-chave, “confirmando ter um plano de transição credível”.
No caso português, 49% das restantes empresas aparecem classificadas com estando num nível "em desenvolvimento", o que significa que têm objetivos de emissões menos ambiciosos (alinhados com a meta de 2°C) e que reportam informação sobre pelo menos metade dos indicadores. 29% das empresas nacionais são classificadas como tendo “progressos limitados”, o que quer dizer que não têm grandes planos de mitigação e transição climática ou então esses planos apontam para um objetivo acima dos 2°C. Mesmo assim, o número de empresas com “progressos limitados” em Portugal é bastante inferior à média europeia, que é de 50%.
A EDP, a Jerónimo Martins, a Navigator e a Nos são as empresas portuguesas que foram analisadas para este estudo do CDP (Carbon Disclosure Project) e da consultora Oliver Wyman.
Outra das conclusões deste relatório é que menos de um terço das empresas europeias associa a remuneração dos seus executivos ao seu desempenho em matéria de clima, consumo de água e desflorestação.
O CDP e a Oliver Wyman também olham para a banca para perceber se o setor financeiro continua ou não a financiar negócios pouco amigos do ambiente. E concluem que até 40% dos empréstimos às cotadas europeias analisadas – cerca de 1,8 biliões de euros – financiam empresas com progressos limitados para se alinharem com a meta de 1,5°C. Apesar disso, oito em cada dez instituições financeiras comunicaram ao CDP que já estão a avaliar os seus clientes na sua estratégia rumo à meta de 1,5°C, em pelo menos alguns setores chave.
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