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Amália, o ‘ChatGPT’ português: o que é, o que faz e quando estará operacional? Quem o desenvolve? E não é preciso um concurso público?

Amália, o ‘ChatGPT’ português: o que é, o que faz e quando estará operacional? Quem o desenvolve? E não é preciso um concurso público?
Yuichiro Chino

O Governo fechou a comunicação sobre o LLM Amália numa nota explicativa para jornalistas, enquanto decorre um contrarrelógio para aproveitar o PRR. Investigadores que lidam com o projeto escusam-se a comentar, enquanto a empresa Unbabel dispõe-se a fornecer o seu modelo para o projeto nacional. Fora do reino do software fica à vista uma necessidade: o LLM Amália vai precisar de um supercomputador para funcionar

O anúncio do desenvolvimento de um modelo nacional para a Inteligência Artificial (IA) surgiu de rompante e não tardou a dividir a comunidade que trabalha na área. Depois das primeiras notícias que davam conta de que o projeto iria ser desenvolvido pelo consórcio do Centro para a Inteligência Artificial Responsável, tecnólogos e juristas garantem que um projeto desta envergadura exige concurso público. Entretanto, aquele que será o maior laboratório especializado em IA do País, que reúne especialistas das Universidades do Porto, Aveiro, Minho, e Nova de Lisboa, diz não ter sido consultado. Segue-se o explicador.

O que é um LLM?

LLM é a sigla usada em inglês para Grande Modelo de Linguagem que funciona com IA. Os LLM extraem informação de textos por via estatística e técnicas de redes neuronais que permitem que a própria IA “saiba” escrever textos ou responda por voz sintetizada a questões de humanos. Por norma, os LLM “aprendem”, através de “treino”, a dar respostas em diferentes idiomas e áreas do conhecimento. Só que para esse “treino”, precisam de computadores potentes para processar, previamente, dados dos idiomas e temas. Não sendo a parte mais visível, a necessidade de ter um supercomputador para “treino” condiciona todo o projeto do LLM Amália. Em outubro, a Fundação Para a Ciência e Tecnologia lançou candidaturas para a recolha de contributos para o financiamento de uma Fábrica de IA em conjunto com Espanha junto das autoridades europeias. Portugal já é detentor de parte minoritária da capacidade permitida pelo Centro de Supercomputação de Barcelona, e a Fábrica de IA deverá representar um aumento considerável dessa capacidade. O facto de o Amália surgir em algumas notícias associado à Fábrica de IA leva a crer que está dependente do aumento da capacidade de computação.

O que levou Portugal a criar um LLM?

O LLM Amália foi apresentado na Web Summit pelo primeiro-ministro Luís Montenegro. Pouco mais se sabe além do nome e da importância estratégica atribuída na preservação do português europeu, e da cultura e da história nacionais. A iniciativa pode ser também encarada como uma emenda à estratégia herdada do executivo interior, que abriu as portas do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) para a constituição de dois consórcios especializados em IA (Accelerat.ai e Centro para a Inteligência Artificial Responsável), mas não contemplou um modelo detido pelo Estado. Montenegro chegou a fixar a data de lançamento no primeiro trimestre de 2025, mas poucos dias depois, soube-se que a estreia diz respeito a uma versão incompleta/experimental e o gabinete de Margarida Balseiro Lopes, ministra da Juventude e Modernização, fixou o prazo de desenvolvimento do LLM Amália em 18 meses. O que manda o lançamento da versão definitiva para meados de 2026 – se os trabalhos arrancarem agora.

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