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Jaron Lanier, futurista e “pai” da realidade virtual: “Os robôs e os os assistentes virtuais não existem – é apenas uma massa de humanos”

Jaron Lanier, tecnólogo, compositor e futurista, considera que os novos modelos de inteligência artificial abrem uma oportunidade para acabar com os modelos de negócio desonestos que têm dominado a Internet
Jaron Lanier, tecnólogo, compositor e futurista, considera que os novos modelos de inteligência artificial abrem uma oportunidade para acabar com os modelos de negócio desonestos que têm dominado a Internet
Aubrey Trinnaman

Será a arte a solução para a eventual sangria que a nova inteligência artificial pode gerar no mercado de trabalho? Jaron Lanier, fundador do termo realidade virtual e conhecedor das tecnologias como poucos, diz que chegou a hora de dar dignidade aos dados - e ressarcir quem os produz

Nos anos 80, Jaron Lanier já falava de realidade virtual quando ainda não havia realidade virtual. A ousadia levou-o à primeira empresa e à primeira bancarrota em 1990, mas não travou a veia de visionário que o honrou com uma extensa entrada na Wikipédia e nas listas dos pensadores mais influentes do mundo em revistas como “Time”, “Wired” ou “Foreign Policy” no início deste século.

Com 63 anos de idade, e à beira daquilo que se convencionou como terceira idade, mantém nas rastas um reflexo de desalinhado, que tem consciência de que podia ter juntado um pecúlio comparável ao dos fundadores das primeiras startups que criaram o “modelo de negócio desonesto” das redes sociais, que compram e vendem pessoas – ou pelo menos dados pessoais –, através da oferta de serviços grátis. E é nesse ponto que entra a dignidade dos dados e a oportunidade de usar a inteligência artificial (IA) para evitar um “futuro estúpido”.

Filho de um judeu ucraniano que fugiu à chacina étnica dos pogroms e de uma judia austríaca que logrou escapar aos campos de concentração nazi, Jaron Lanier dispensa seguramente lições sobre totalitarismo, mas não embarca no ceticismo mais recente que tenta refrear a expansão dos grandes modelos de IA generativa, que tornaram famoso o ChatGPT e outras soluções similares.

Órfão de mãe aos nove anos e arquiteto de uma casa em forma de cúpula ou domo geodésico onde viveu com o pai no Novo México, ingressa na universidade com 14 anos e depara com os primeiros ensinamentos matemáticos que haveriam de o levar até à programação. Em paralelo, desenvolve dotes musicais ao piano e múltiplos instrumentos – e essa faceta também terá contribuído para ingressar num curso de arte, abandonado a meio.

A ambivalência garantiu-lhe créditos como tecnólogo e também como músico e artista gráfico, além de estudioso quanto ao futuro. Hoje trabalha com a Microsoft – mas não é em sua representação que vai participar como um dos cabeças de cartaz do evento Oeiras Ignição Gerador, onde vão ter lugar vários debates sobre o futuro da arte e da cultura, além de uma Feira da Criatividade.

A inteligência artificial já cria música, quadros, e até vídeos e ambientes virtuais… é o fim da arte e do artista ou, pelo contrário, o início de algo novo?
É uma decisão que a Humanidade ainda terá de fazer. A melhor forma de olhar para os programas de IA é considerar que correspondem a uma nova forma de colaboração entre humanos. Logo, podemos dizer que é uma nova forma de combinar os trabalhos de diferentes artistas, que têm diferentes graus de qualidade. No passado fazia-se mostras numa galeria, que produziam resultado e permitiam ver diferentes trabalhos de vários artistas, mas aqui podemos combinar e misturar esses trabalhos… Acredito que não há mal nenhum nisso. Não estou religiosamente contra a mistura [de obras de arte e artistas], mas estou religiosamente contra fingir que as pessoas não existem. Estou religiosamente contra a ideia de que os humanos não fizeram nada [que permite à IA criar obras de arte]; não estou a favor de apagar as pessoas, porque não será possível criar uma sociedade que ajuda as pessoas apagando-as. Quando a IA combina trabalho de várias pessoas, temos direito a querer saber quem são as pessoas e essas pessoas passam a ter o direito a ser creditadas por isso, e nalguns casos receberem dinheiro. E também se garante assim o direito à reclamação, se for feito algo danoso. Tem de haver uma responsabilidade humana. Logo, a minha reivindicação é que nunca se esqueça as pessoas.

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