Sindicato acusa Montenegro de querer virar a opinião pública contra os polícias
José Fernandes
Sindicato dos Profissionais da Polícia fala em tom provocatório do primeiro-ministro. O porta-voz da plataforma dos sindicatos e associações da PSP e GNR considera que falta vontade política ao Governo para que haja acordo sobre o subsídio de risco
As declarações do primeiro-ministro Luís Montenegro no encerramento das jornadas parlamentares do PSD acerca das negociações com as forças policiais já suscitaram reações por parte dos representantes sindicais de PSP e GNR.
“Estamos disponíveis para acertos no acordo, não nos valores”, avisou Montenegro, esclarecendo que o Governo já fez “um esforço medonho” e “não vai colocar nem mais um cêntimo”. E acrescentou: "Há uma coisa que não pode acontecer, o Governo perder a autoridade de se preocupar com toda a sociedade, com todos os outros. Enquanto eu for primeiro-ministro, estarei disponível para resolver tudo aquilo que tem de ser resolvido em Portugal, mas não para trazer de volta a instabilidade financeira, o sofrimento para todos só para cumprir o interesse particular de alguns", disse o governante, acrescentando que "convém lembrar que 300 euros mensais vezes 14 remunerações são 4.200 euros anuais".
A primeira reação veio de Bruno Pereira, porta voz da plataforma que junta sindicatos da PSP e da GNR, que diz que a negociação "não está a ser priorizada do ponto de vista político".
"Havendo vontade e havendo prioridade, eu quero acreditar que se conseguiria ir mais além para firmar um acordo. Não sendo possível esse acordo, tenho imensas dúvidas que possa ser celebrado ou acordado, e teremos, necessariamente, que manter a nossa defesa daquilo que consideramos o mínimo de justiça", disse aos jornalistas à margem do evento comemorativo do 157.º Aniversário da Polícia de Segurança Pública, que decorreu esta terça-feira em Torres Novas.
O Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP/PSP) foi mais duro nas críticas e acusa o primeiro-ministro de querer virar a opinião pública contra os polícias. Em comunicado, o sindicato lamenta que o Governo continue sem atribuir o suplemento de missão reclamado pela Polícia de Segurança Pública (PSP), Guarda Nacional Republicana (GNR) e Corpo da Guarda Prisional (CGP) "quase quatro meses desde a sua tomada de posse" e aponta o tom "provocatório" das declarações de Luís Montenegro.
"Uma vez que falamos da compensação do risco agregado à profissão, consideramos como provocatório que o senhor primeiro-ministro aponte os valores referentes ao investimento em causa, uma vez que não o fez em mais nenhum caso, numa tentativa de colocar a opinião pública contra os polícias, utilizando os polícias como arma de arremesso político", lê-se na nota divulgada.
O SPP, que confirmou a presença numa reunião com o Ministério da Administração Interna (MAI) marcada para o próximo dia 9, criticou ainda o Governo pelo que considerou ser uma diferença de tratamento dos polícias em relação aos professores, por causa do acordo alcançado para a recuperação do tempo de carreira congelado.
As negociações entre o Governo e os sindicatos da PSP e associações da GNR sobre a atribuição de um subsídio de risco permanecem, ao fim de três meses, sem acordo depois de o Ministério da Administração Interna ter proposto um aumento de 300 euros no suplemento de risco da PSP e GNR, valor que seria pago de forma faseada até 2026, passando o suplemento fixo dos atuais 100 para 400 euros, além de se manter a vertente variável de 20% do ordenado base.
Como contraposta, a plataforma dos sindicatos da PSP e associações da GNR, que inicialmente pediu 600 euros de aumento, propõe agora um aumento de 400 euros pago em três vezes: 200 euros este ano, 100 euros em 2025 e outros 100 em 2026.
O porta-voz da plataforma que junta PSP e GNR considera que os 300 euros propostos pelo governo, embora "não sejam "migalhas", ainda são "insuficientes", referindo que uma melhor gestão orçamental permitiria suportar esse aumento salarial.
PSP de serviço durante protesto dos polícias aquando do debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos na corrida eleitoral para as Legislativas 2024
"Com toda a compreensão para com as forças governativas, achamos que 400 euros é perfeitamente comportável. É importante haver medidas que permitam poupar dinheiro, e essa poupança de dinheiro pode ser alocada para este aumento salarial. É uma questão de vontade em fazer mais e diferente", defendeu.
Questionado sobre as declarações do presidente do Chega, André Ventura, que apelou a todos os polícias e forças de segurança para se mobilizarem no parlamento na quinta-feira, dia em que o partido vai apresentar propostas para o setor, o porta-voz defendeu a participação cívica dos polícias, incluindo a presença na Assembleia da República para discutir questões sobre a sua classe profissional.
"A participação cívica é algo que não está arredado aos polícias e, portanto, eles poderem ir para a Assembleia da República assistir a uma discussão de algo que eles consideram importante, não parece ser de criticar, mas sim de louvar. É uma questão da decisão individual de cada um dos polícias", concluiu.