Saúde

Governo falha meta de ter helicópteros de emergência 24h até ao fim do mês, ministra diz que "ninguém ficou sem transporte"

Governo falha meta de ter helicópteros de emergência 24h até ao fim do mês, ministra diz que "ninguém ficou sem transporte"

A promessa de helicópteros 24h por dia para o INEM ficou por cumprir. Sem certificação e formação, a resposta aérea noturna continua por fazer. Ministra defende-se

Mariana Rebocho

Jornalista

A promessa feita pela Ministra da Saúde de que até ao final do mês de setembro a empresa GulfMed teria a funcionar quatro helicóteros de emergência médica 24 horas por dia, tal como fixado no contrato firmado entre o INEM e a empresa maltesa, vai ficar por cumprir, noticia o “Público” esta quarta-feira. Ana Paula Martins tinha definido esta meta em julho, quando foi preciso acionar os helicópteros da Força Aérea para operar durante a noite no transporte de doentes urgentes. Dois meses depois da promessa, apenas três aeronaves estão operacionais e atuam durante 12 horas, sem cobertura noturna.

Esta terça-feira, o INEM confirmava isto mesmo, num comunicado citado pela agência Lusa: "Tendo em vista o cumprimento de todos os requisitos legais exigidos, prevê-se que a operação do SHEM [Serviço de Helicópteros de Emergência Médica], conforme previsto no concurso público internacional, ou seja, com quatro aeronaves 24 horas, tenha início dentro de poucas semanas".

De acordo com o INEM, o SHEM está atualmente a "operar com três helicópteros em regime de 12 horas diurnas, sediados em Macedo de Cavaleiros, Évora e Loulé", dispositivo acrescido com o apoio da Força Aérea Portuguesa (FAP).

"O início da prestação de serviço pela nova empresa está a decorrer de forma gradual, de modo a garantir-se o cumprimento de todos os requisitos da legislação aeronáutica europeia, essencialmente relacionados com a segurança da operação", lembra o instituto.

O INEM acrescenta que o serviço de transporte aéreo de emergência médica "apresenta uma evolução positiva quanto aos níveis de prontidão, agilidade e rapidez".

O concurso público internacional foi lançado em novembro de 2024, tendo a decisão final de adjudicação à Gulf Med sido anunciada em março deste ano, prevendo a operação de quatro helicópteros que ficarão nas bases do INEM de Macedo de Cavaleiros, Viseu, Évora e Loulé entre julho de 2025 e o final de 2030.

O transporte de emergência médica tem sido garantido por quatro helicópteros da FAP, disponíveis 24 horas por dia, uma operação transitória, e três aparelhos da empresa Gulf Med, que apenas operam durante o dia. A transição decorre desde 1 de julho e deveria terminar em 31 de setembro.

No entanto, o plano não se desenvolveu como era imaginado.

A operação neste momento depende de vários fatores por concluir, como processos de certificação técnica e questões contratuais, sendo que o contrato de ajuste direto ainda não tem o visto do Tribunal de Contas. Além disso, às tripulações da Gulf Med ainda falta autorização para operar durante a noite, devido a requisitos de segurança e formação específicos.

Questionada na comissão parlamentar de Saúde, a ministra foi evasiva na resposta e recuperou outra promessa: da refundação INEM. No Parlamento, Ana Paula Martins garantiu que até ao final do ano haverá uma nova lei orgânica para o INEM.

E antes da refundação, haverá ainda uma nova administração. Ana Paula Martins diz estar a aguardar o fim do processo de avaliação de candidaturas a decorrer na Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública. Às criticas de instabilidade no INEM, a ministra reconheceu que faltam recursos humanos, mas a falta de estabilidade termina ai: "Ficou até agora alguém por helitransportar desde 1 de junho por falta de meios do INEM ou da Força Aérea? Que eu saiba, ninguém ficou por transportar."

As organizações sindicais, como o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), já tinham alertado para o risco de incumprimento do calendário estabelecido, apontando falhas na planificação e na comunicação institucional.

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