Saúde

Bastonário da Ordem dos Médicos diz que SNS atravessa “momento crítico sem precedentes”

Bastonário da Ordem dos Médicos diz que SNS atravessa “momento crítico sem precedentes”
Carlos Cortes

"O cenário é conhecido: urgências hospitalares em rotura, médicos exaustos, doentes em sofrimento. Portugal lidera no número de episódios de urgência que ocorrem, muitas vezes, por falta de alternativas viáveis", observou Carlos Cortes na tomada de posse para o quadriénio 2025-2029

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) defendeu esta quinta-feira o Serviço Nacional de Saúde (SNS) como alicerce da democracia, considerando que "atravessa um momento crítico sem precedentes", devido às políticas públicas que o "têm vindo a fragilizar".

Na tomada de posse para o quadriénio 2025-2029, Carlos Cortes afirmou que proteger o SNS é defender a Constituição, a dignidade do exercício médico e assegurar direitos básicos de todos os cidadãos.

"No nosso caso, um contexto primordial é o SNS, autêntico alicerce da nossa democracia e motivo de legítimo orgulho para Portugal. Contudo, este orgulho legítimo convive hoje com uma inquietação crescente: o SNS atravessa um momento crítico sem precedentes", considerou.

Na cerimónia, que decorreu no auditório da OM, em Lisboa, com a presença da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o bastonário sublinhou que devem ser denunciadas "claramente as políticas que, ao longo da última década, o têm vindo a fragilizar e comprometer".

"O cenário é conhecido: urgências hospitalares em rotura, médicos exaustos, doentes em sofrimento. Portugal lidera no número de episódios de urgência que ocorrem, muitas vezes, por falta de alternativas viáveis. O sistema tornou-se refém de uma lógica 'urgênciocentrica' que nenhum outro país conseguiria sustentar", observou.

Carlos Cortes recordou o aumento das listas de espera e a escassez de recursos, referindo que "a pobreza também é uma doença oculta". Em Portugal, segundo o responsável, cerca de 28% da despesa em saúde é paga diretamente do bolso das famílias, das quais muitas "abdicam das suas consultas e de comprar os seus medicamentos".

"Continuamos a assistir a hospitais sobrecarregados por dívidas, centros de saúde carentes de manutenção adequada e carreira médica sistematicamente desvalorizada", lamentou.

No seu discurso, Carlos Cortes salientou, entretanto, que "defender os cuidados de saúde não significa ignorar o sector privado ou social, bem pelo contrário, ambos têm o seu lugar num sistema equilibrado".

"Sem um SNS forte, o acesso torna-se desigual e a equidade não passa de uma ilusão nos panfletos eleitorais. Precisamos de desburocratizar profundamente o SNS e estabelecer uma interoperabilidade digital efetiva, permitindo uma comunicação fluida, ágil e eficaz entre os vários níveis e unidades de saúde", vincou.

Para o bastonário, é necessário um rumo para a saúde que consagre uma nova carreira médica transversal a todos os sectores, que reconheça a medicina como uma profissão de elevado risco e desgaste rápido, que invista fortemente no internato médico e que se torne "uma verdadeira prioridade nacional".

Carlos Cortes foi reeleito para um segundo mandato a 3 de junho, tendo sido o único candidato nas eleições para o mandato que termina em 2029.

O especialista em patologia clínica candidatou-se a um segundo mandato depois de ter assumido o cargo pela primeira vez em março de 2023, quando foi eleito com 61,94% dos votos na segunda volta das eleições, então disputadas com o médico Rui Nunes.

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