Chegou a primavera, abriu a época das alergias: um guia sobre como distinguir sintomas e prevenir incómodos
Roy Morsch
Isabel Rezende – médica especialista de Imunoalergologia na ULS de Santo António e coordenadora da Área da Asma Grave no Serviço de Imunoalergologia do Hospital de Santo António, no Porto – ajuda-nos a distinguir alergias das constipações e indica soluções para recuperar a qualidade de vida
Médica especialista de Imunoalergologia na ULS de Santo António (Hospital de Santo António e Centro Materno Infantil do Norte), coordenadora da Área da Asma Grave no Serviço de Imunoalergologia do Hospital de Santo António, membro da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC)
Na primavera existe uma grande concentração de pólenes no ar, porque muitas árvores e gramíneas florescem e libertam grandes quantidades. O pólen é transportado pelo vento e, ao ser inalado, causa uma reação alérgica em muitas delas, sobretudo respiratória, manifestando-se com os sintomas típicos de alergia.
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa. Habitualmente o doente alérgico apresenta sintomas típicos de rinite, como os espirros, o corrimento nasal, a comichão e a obstrução nasal, mas também é comum que existam sintomas oculares como a comichão, o lacrimejo e o olho vermelho. Podem existir também sintomas respiratórios que causam mais incómodo e preocupação, porque são característicos de asma, como a tosse, a falta de ar, e a pieira.
Algumas pessoas são mais propensas a desenvolver alergias sazonais do que outras. A predisposição genética desempenha um papel importante nessa suscetibilidade: se um ou ambos os pais têm alergias, há uma maior probabilidade de os filhos também as terem. Indivíduos com história pessoal de alergias alimentares ou de dermatite atópica podem ter também maior probabilidade de desenvolver alergias sazonais.
Distinguir a constipação da rinite alérgica é uma dúvida muito frequente, porque as queixas são idênticas. No entanto, quando os sintomas se manifestam por causa de uma alergia, existe habitualmente uma exposição prévia identificada ao alergénio, como os pólenes por exemplo. Por outro lado, a constipação é causada habitualmente por infeções víricas, e os sintomas típicos podem incluir dor de garganta, febre baixa e fadiga, e desaparecem dentro de uma ou duas semanas.
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O diagnóstico suspeito, com causa alérgica, é habitualmente baseado na história clínica do doente, ou seja, na existência de uma relação entre sintomas e algo que o doente identifica como provável alergia, nomeadamente a exposição a pólenes, ao pó da casa, ou a algum animal de estimação. Numa fase inicial, sempre que possível, o nosso maior auxílio são os testes cutâneos, que se realizam por picada na pele do antebraço do doente, e que permitem rastrear uma série de alergénios.
Os testes são fáceis de executar, rápidos, têm baixo custo e são muito sensíveis. Não são dolorosos, mas podem provocar comichão mais intensa, resultante da pápula que surge em caso de positividade, que se torna em algo equivalente a uma borbulha, como a que surge após uma picada de mosquito. São bem tolerados pela maioria dos doentes, e realizados em crianças muito pequeninas.
Em alguns casos teremos que fazer a pesquisa de alergia através de análises sanguíneas, sobretudo se o doente não consegue suspender anti-histamínicos uns dias antes da realização dos testes. Existem outro tipo de testes que poderão ser úteis no diagnóstico, mas realizados num menor número de casos.
Diagnóstico
Na maioria dos casos o diagnóstico inicial é clínico, ou seja, a junção de sintomas típicos e característicos de asma fazem suspeitar do diagnóstico e medicar de acordo com ele. Estes sintomas são sobretudo a presença de tosse, dispneia e pieira, e por vezes aperto torácico. Sempre que possível deve realizar-se um estudo de função pulmonar, nomeadamente a espirometria com o teste de broncodilatação, que no caso de ser positivo confirma o diagnóstico. Mas não devemos esperar pelo resultado destas provas respiratórias para medicar o doente, o que se pretende é sobretudo tratar a inflamação pulmonar subjacente, dar conforto e qualidade de vida.
Existem várias medidas que as pessoas podem adotar para se protegerem da exposição aos pólenes, sobretudo nos períodos em que os níveis estão mais altos: evitar realizar atividades ao ar livre em dias de maior concentração polínica (saberá consultando o Boletim Polínico da Rede Portuguesa de Aerobiologia da SPAIC), manter as janelas e portas fechadas durante os períodos em que os níveis de pólen estiverem mais altos, habitualmente durante a manhã e no início da tarde, proteger os olhos com utilização de óculos no exterior e trazer consigo a sua medicação de alívio, entre outras adequadas a cada caso.
Existem várias classes de medicamentos prescritos para o tratamento destas alergias. Os mais comuns incluem os anti-histamínicos orais e os corticoides intranasais. Os anti-histamínicos ajudam a aliviar num curto espaço de tempo os sintomas alérgicos e o efeito secundário mais associado a estes é a sonolência que podem causar, embora se preconize atualmente a prescrição de anti-histamínicos de 2.ª geração, mais recentes, muito seguros e com menos efeitos secundários. Já os corticoides intranasais reduzem a inflamação nasal e são o tratamento preferencial para controlo de sintomas mais persistentes. Podem, esporadicamente, causar sangramento ligeiro nasal, sobretudo se a aplicação do spray for realizada de forma incorreta. Assim, é de grande importância que o doente não se automedique e que seja aconselhado por um Imunoalergologista para a correta prescrição da medicação.
A cura ainda não existe, mas é possível, atualmente, na maioria dos casos, atingir-se um excelente controlo da doença, com aquisição de uma boa qualidade de vida. Se é habitual apresentar queixas típicas de alergia durante a primavera, deve procurar consultar o seu Imunoalergologista antes da época polínica ter início. Para além das medidas de evicção aos aeroalergénios, ser-lhe-à explicado como deve utilizar a sua medicação regular e a de alívio. Provavelmente, no caso de os sintomas terem um impacto significativo na sua qualidade de vida, o seu Imunoalergologista vai explicar-lhe o benefício de realizar imunoterapia específica, vulgarmente conhecida como vacina antialérgica. Muitas pessoas podem encontrar alívio significativo dos sintomas alérgicos com o tratamento adequado e é importante desenvolver um plano de tratamento personalizado que atenda às necessidades individuais.
Nem todos os doentes são candidatos a vacina anti-alérgica, embora a maioria dos doentes que procura um Imunoalergologista o seja. O critério mais importante é a gravidade clínica da doença, ou seja, o impacto que tem na qualidade de vida. Portanto, um doente que apresenta queixas significativas é, habitualmente, candidato a vacina. Existem, no entanto, algumas situações que não nos permitem realizar a vacina, como por exemplo um paciente que sofre concomitantemente de um determinado tipo de doenças como as auto-imunes e as neoplasias. No global, as vacinas anti-alérgicas apresentam excelentes resultados e são, atualmente, a melhor arma terapêutica contra este tipo de alergia.