Saúde

Governo avança com alterações no Serviço Nacional de Saúde sem acordo com os sindicatos dos médicos

Governo avança com alterações no Serviço Nacional de Saúde sem acordo com os sindicatos dos médicos
Rui Oliveira

Reunião negocial extraordinária começou e terminou ao início da tarde desta terça-feira. A derradeira tentativa para um acordo sobre as carreiras no Serviço Nacional de Saúde não surtiu efeito. Manuel Pizarro vai avançar unilateralmente com a nova legislação sobre as unidades de saúde familiar e a dedicação plena no Serviço Nacional de Saúde

A sétima reunião extraordinária após ter terminado o prazo do protocolo negocial entre o Governo e os sindicatos médicos não permitiu chegar a acordo. O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, vai avançar unilateralmente com os novos diplomas sobre as unidades de saúde familiar e a dedicação plena no Serviço Nacional de Saúde.

Quase 17 meses depois, as negociações continuam sem um acordo à vista e com várias greves anunciadas. A única diferença, e subtil, é um afastamento nas reações dos dirigentes sindicais, com a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) a extremar posições e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) a ponderar mais.

O ministro do Saúde, Manuel Pizarro, satisfez algumas das reivindicações e acena com reforços salariais acima de 30% na carreira hospitalar e de 60% nos cuidados primários, contudo, não convence os sindicatos. O Governo exige em troca mais trabalho, sobretudo extraordinário, e os médicos dizem que há muito que ultrapassaram todos os limites.

A FNAM garante que a proposta da tutela “estabelece diferenças inaceitáveis entre as obrigações dos médicos aderentes à dedicação plena consoante sejam da área hospitalar, medicina geral e familiar ou saúde pública”. E dá como exemplos: “Uns trabalham 35 horas semanais que poderão aumentar se, e só se, a sua lista de utentes aumentar e os outros terão sempre que fazer mais cinco horas semanais, pagas com um suplemento de 25% - no caso dos médicos hospitalares e correspondente a 917€ para um assistente -, mas não abrangidas no cômputo do trabalho suplementar para efeitos de limite anual.”

Para os sindicatos, a proposta é uma clara perda de direitos. O trabalho suplementar passará de 150 para 250 horas por ano, a jornada diária será de até nove horas, acaba o prejuízo do horário no descanso compensatório por trabalho noturno e o sábado passa a ser incluído na atividade regular e programada dos médicos hospitalares que não realizem urgências, por exemplo.

O SIM reprova o plano de Manuel Pizarro, mas afasta-se das posições mais extremadas da FNAM. A generalização das unidades de saúde familiar modelo B, com a remuneração associada a incentivos de produção assistencial é um dos pontos positivos que, apesar de tudo, o SIM reconhece. No entanto, os pontos negativos superam e, para já, mantém-se a greve convocada para quarta-feira e quinta-feira na região de Lisboa, com repetição nos dias 27 e 28 de setembro. Jorge Roque da Cunha justifica que “as questões fundamentais para os médicos hospitalares ficaram por responder e cada vez vai ser mais difícil assegurar escalas nas urgências e reduzir as listas de espera para consultas”.

Manuel Pizarro voltou assim a sentar-se à mesa, desta feita, com um reforçado sentimento de incompreensão. "Para se fazer um acordo é preciso entendimento dos dois lados. Em alguns dos casos, eu próprio estou surpreendido por não se ter chegado a acordo. A generalização das unidades de saúde familiar modelo B era uma antiga reivindicação de todo o setor, incluindo das organizações sindicais. Era mesmo a principal reivindicação dos cuidados de saúde primários", comentou no final da semana passada.

Na próxima quinta-feira, o Governo apresenta o diploma sobre a generalização das unidades de saúde familiar do modelo B.

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