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Portugal é o país europeu com maior incidência de doença renal crónica, mas não há “uma linha” sobre esta no Plano Nacional de Saúde

Um doente faz diálise peritoneal no Hospital de Santo António
Um doente faz diálise peritoneal no Hospital de Santo António
FERNANDO VELUDO/nfactos

A presidente de uma comissão que, nos últimos três anos, delineou as estratégias para contenção da doença nas suas formas graves, é a porta-voz dos médicos a expressarem a urgência de se passar da teoria para a prática

Portugal é o país europeu com maior incidência de doença renal crónica, mas não há “uma linha” sobre esta no Plano Nacional de Saúde

Joana Ascensão

Jornalista

Não há “uma linha” sobre doença renal crónica no Plano Nacional de Saúde 2030, que entrou em vigor na semana passada e que resume os pontos principais da estratégia em saúde para os próximos anos. Essa falta tem sido recebida com incompreensão entre os clínicos da área da nefrologia, a especialidade médica debruçada sobre as doenças dos rins. Não só porque Portugal encabeça a Europa no que toca à incidência de doença renal, com uma estimativa de 20% dos portugueses afetados, mas também porque uma comissão trabalhou durante os últimos três anos, a pedido da Direção-Geral da Saúde, para o desenho de linhas orientadoras que melhorem a prevenção e o tratamento da mesma. E apesar de a investigação ter sido “bem recebida” pela própria DGS e posteriormente enviada ao Ministério da Saúde, segundo a presidente da comissão, Anabela Rodrigues, a falta de menção faz temer que não esteja a ser dada a devida importância a uma doença cuja incidência é “maior do que a esperada e tende a aumentar”.

Tudo começa num longo silêncio. Quando os rins se cansam de trabalhar bem, raramente há sintomas. Mesmo quando eles aparecem, são pouco específicos. “O primeiro e mais comum sinal de alerta é hipertensão. Mas um doente pode estar duas décadas sem ter sintomas nenhuns e numa fase em que começa a sentir-se mais cansaço ou com anemia, vai fazer análises e às tantas aparece com uma doença renal em estádio avançado, a precisar de diálise”, descreve Anabela Rodrigues. Além de ter presidido à comissão de acompanhamento nacional da diálise, que definiu as linhas orientadoras para a doença, a médica nefrologista é responsável pela unidade de diálise peritoneal do Hospital de Santo António, no Porto. Diz que “a prevalência está subestimada: duas em cada dez pessoas podem ter a doença sem o saberem”. Em Portugal, pensa-se que o elevado número de pessoas a realizarem tratamento tem por trás muitas doenças em estádios iniciais, ainda sem sintomas. A grande incidência pode dever-se à sobreposição com outras doenças crónicas, como a obesidade, a hipertensão e a diabetes, “grandes causadoras de doença renal”, mas também ao envelhecimento da população. Mas, sobretudo, se o Serviço Nacional de Saúde se pode orgulhar de dar a todos os doentes acesso ao tratamento da doença renal crónica avançada, a diálise, não está a fazer o suficiente para a prevenir. “Há pouco conhecimento sobre a doença mas, em alguns casos, com fármacos novos que surgiram entretanto, nós poderíamos evitar a chegada à diálise, que é o evento mais traumático, modificador de vida, para o qual depois não há solução a não ser o transplante”, assegura. A cirurgia acaba a ser uma opção para alguns, muitas vezes dependente de uma longa lista de espera. Até ela, a grande maioria dos 13 mil doentes (86%) que fazem tratamento vai três vezes por semana a um centro de hemodiálise. Uma minoria faz diálise peritoneal, uma técnica menos conhecida, geralmente feita em casa, conferindo aos doentes maior autonomia.

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