Conheça as camas que os portugueses esgotam

As camas mais caras do mundo, a Hästens e o que custa uma noite de sono dão o mote à crónica ‘Sem Preço’ desta semana
As camas mais caras do mundo, a Hästens e o que custa uma noite de sono dão o mote à crónica ‘Sem Preço’ desta semana
Jornalista
Por pretextos diferentes, já por mais do que uma vez escrevo sobre o sono nesta coluna sobre marcas e experiências de luxo. Sono insatisfatório ou de má qualidade é parte integrante das noites de, pelo menos, metade da população portuguesa, na qual me incluo. E luxo perfila-se cada vez mais como aquilo que não temos, mas que é determinante na saúde e no bem-estar, e pelo o qual estamos dispostos a pagar o que for preciso.
Além do estudo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia que revela as fragilidades do sono nacional, notícias regulares dão conta do agravar do consumo de medicamentos e suplementos calmantes, a reboque das consequências da pandemia. Seja em alternativa ou em simultâneo com medicações, há quem procure também soluções no exercício físico, na meditação e nas terapias alternativas. Mas, e se a cama em que dormimos for a chave para um sono revigorante? Esta é a premissa (em causa própria) da Hästens, que domina o top 5 das camas mais caras do mundo.
Camas não é propriamente a forma como a marca sueca intitula aquilo que produz, preferindo o conceito de ‘sistema de sono’ à medida e personalizado, composto por cama, colchão e sobrecolchão, mais uma série de recomendações de rituais que induzem o descanso. Já lá vamos. Apesar de já estar em Portugal desde 2008 (156 anos depois de ter sido criada em 1852, em Köping, cidade a cerca de uma hora e meia de Estocolmo), nos últimos anos a Hästens tem atingido um pico de procura. Durante a pandemia, as camas disponíveis para entrega imediata esgotaram-se assim que as lojas começam a reabrir, recorda Sónia Teixeira, diretora de marketing. Se mais houvesse, mais teriam sido vendidas.
A descoberta das camas Hästens não é episódica. A procura mantém-se em alta desde o pós-pandemia, com o aumento da preocupação com a saúde e do reconhecimento da importância do sono, que faz com que os portugueses validem o custo das camas face aos seus benefícios. As mais vendidas no mercado nacional – a Maranga (com dois sistemas de molas) e a 2000T (com três sistemas de molas), ambas com 180x220 cm – têm preços que variam entre os €18.980 e os €54.380, respetivamente, dependendo do tipo de sobrecolchão, tecidos e padrões.
O modelo Maranga, com o icónico padrão xadrez azul e branco, tem até honras de destaque na primeira temporada da série da Netflix ‘Emily in Paris’, quando Emily decide organizar uma sessão fotográfica para a Hästens, um dos clientes da agência de marketing para a qual trabalha, instalando a dita cama no coração de Montmartre e convidando influenciadoras a usufruírem da experiência. Fora do ecrã, e por cá, é possível testar os benefícios das camas nas lojas próprias da Hästens (Lisboa, Cascais e Porto). Ou mergulhar numa experiência completa e prolongada no CBR Boutique Hotel Hästens Sleep Spa, em Coimbra, com todos os quartos com as camas suecas, ou num dos seis hotéis nacionais que têm algumas suites dedicadas a este ‘sistema de sono’.
É no NHôme Country Living, em Ponte de Lima, que me entrego à proposta de dormir numa das camas da marca que é tida como a melhor do mundo e que tem três modelos entre as três mais caras do mundo (Grand Vividus, €365 mil; Vividus, €258 mil; e King Marwari, €67 mil). A título de curiosidade, a Grand Vividus é afamada por ser a cama do rapper Drake e a Vividus é a companhia noturna de quatro portugueses, disponíveis para pagar €258 mil para terem em casa o topo de gama da Hästens. Mas, afinal, qual é a base da reputação destas camas que custam a partir de cinco dígitos e ascendem até aos seis dígitos?
Primeiro, o fabrico manual e a qualidade dos materiais (naturais e livres de tratamentos químicos nocivos), desde a estrutura da cama (pinho sueco de crescimento lento, mais estável e resistente) até ao complexo colchão com um sistema de molas (em metal resistente ao calor, mantendo a elasticidade), crina de cavalo lavada e tratada (repelente de humidade e de calor), algodão (respirável), lã (isolante térmico) e linho (absorção de vibração, reduzindo o acordar do companheiro de sono). Determinante é o sobrecolchão, que pode incluir algodão, mistura de lã e crina de cavalo. O nível de conforto e o preço final de cada cama, esses, dependem da quantidade de camadas de cada um dos materiais. Ou seja, quanto mais camadas, mais confortável e cara é.
A cama que me espera na suite de 42m2 no NHôme Country Living, em Ponte de Lima, é uma das preferidas dos portugueses e a que tem a aparição na série ‘Emily in Paris’. No primeiro contacto (entenda-se, assim que entro no quarto e me atiro para cima da cama), a Maranga (com colchão de firmeza média e sobrecolchão topo de gama BJXL) corrobora os atributos de conforto reclamados. Mas aqui não é apenas a cama que faz o sono. Um cartão na mesa de cabeceira indica os vários passos a seguir na hora de ir dormir.
Primeiro, desligar o telemóvel três horas antes de deitar, ativar na coluna Marshall a lista de músicas relaxantes compilada pelo NHôme e tomar um banho quente. De seguida, beber uma tisana e pôr no papel (bloco de notas e lápis estão na mesa de cabeceira) algumas coisas pelas quais somos gratos. Finalmente, escurecer e refrescar o quarto (entre 18º e 22º), deitar e colocar a venda de olhos (também incluída). Desperto com o nascer do dia, poucos minutos depois das 6h00 da manhã, depois de uma noite em que acordo várias vezes, tudo como é habitual.
Com apenas uma noite numa cama Hästens, não é de esperar mudanças. Nem no meu perfil de sono, nem no de um dos maiores especialistas na matéria. Michael Breus, psicólogo clínico norte-americano e especialista em medicina do sono, relata a experiência de um mês e meio com uma cama Hästens de 49 mil dólares (parte da remuneração para dar formação e apoio aos clientes VIP da marca sueca). O conhecido ‘The Sleep Doctor’ conta, numa publicação no seu site em dezembro de 2022, que na primeira semana dorme pior do que dormia antes... Mas a situação vai mudando progressivamente, por este tipo de colchão requerer habituação. Passadas seis semanas, garante ter um sono mais consistente, sem dor de costas ao acordar.
A forma como se acorda e decorre o dia refletem a noite e a qualidade do sono, sendo a cama um coadjuvante. É por esta razão que a marca de sueca cria o Hästens Sleep Spa, disponível no CBR Boutique Hotel, em Coimbra, a única localização no mundo com este conceito, para já. Dentro da lógica de spa de sono é suposto ter a temperatura do quarto a cerca de 18º; silêncio e escuro absolutos; lençóis e roupa de dormir 100% algodão ou em seda; usar almofada com altura e qualidade adequadas; não ver televisão nem consultar dispositivos digitais no quarto; e deitar e acordar à mesma hora, inclusive ao fim de semana.
Expandir a vertente de Turismo de Sono - uma tendência crescente a nível nacional e internacional - é um objetivo. Sónia Teixeira, diretora de marketing da Hästens, revela que há um plano para a marca estar em mais hotéis em Portugal, por considerar que a qualidade das camas em hotelaria é uma ínfima parte do investimento total e nas zonas comuns, quando os hóspedes passam a maioria do tempo a dormir e nos quartos. Mais ainda quando há uma urgência de sono de qualidade.
A par da defesa de noites bem dormidas, a Hästens em Portugal apoia algumas iniciativas com ligação direta à base da principal matéria-prima das suas camas: os cavalos. É neste contexto que se encaixa a ligação ao NHôme e às provas do Concurso de Saltos Internacional, em Ponte de Lima e em Pedras Salgadas, que têm em comum Filipe Pimenta, enquanto proprietário do hotel, criador de cavalos e organizador das provas que integram o circuito internacional de saltos de obstáculos, ‘amadrinhadas’ pela embaixadora da Hästens, a ex-modelo e influenciadora digital Débora Montenegro.
É também no universo equestre que começa a história da Hästens, em 1852, quando Pehr Adolf Janson recebe o certificado de mestre seleiro, fazendo selas para cavalos mas também colchões com crina de cavalo, num negócio que a partir de 1917 se foca apenas nos colchões, mantendo, até hoje, a gestão familiar e a crina de cavalo como matéria-prima. Defensores de animais torcerão o nariz a esta opção. Sónia Teixeira alega que os cavalos não são sujeitos a crueldade quando lhes é cortada a crina e a cauda, que voltam a crescer. E o mal que a crina possa fazer a quem sofre de alergias? É colmatado com os procedimentos de lavagem, desinfeção e aquecimento a 140º, que permitem que o pelo de cavalo usado pela Hästens obtenha resultados negativos em testes de alergénios. Que sejam também garantia de um sono reparador.
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