JMJ: Bispo avisa que Lisboa "vai estar no caos" e Carris ainda não conhece plano de mobilidade
TIAGO PETINGA
Funcionários da Carris vão receber mais 10 euros por hora na semana da Jornada Mundial da Juventude, mas presidente da empresa lamenta ainda não conhecer as necessidades de transporte, nem os constrangimentos. Bispo anuncia que haverá ruas com acesso só para moradores
O bispo Américo Aguiar admite que a capital "vai estar no caos" durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em agosto, mas promete fazer tudo para reduzir o impacto deste acontecimento único na vida dos lisboetas. "A cidade de Lisboa vai estar no caos", reconhece, em entrevista à agência Lusa, Américo Aguiar, o bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, antes de desfiar uma série de medidas que a organização está a preparar para "diminuir ao máximo os constrangimentos".
O plano de mobilidade para a JMJ é uma das grandes preocupações deste momento de preparação da JMJ. Está a cargo do grupo de projeto para a JMJ, nomeado pelo Governo e liderado por José Sá Fernandes, mas ainda não é conhecido, o que motiva já também apreensão por parte de quem dirige os transportes públicos, como é o caso do presidente da Carris, Pedro Bogas, que em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, diz que está preocupado por, a dois meses do evento, ainda não conhecer o plano.
“Esse é um tema que nos preocupa. Cabe ao governo a elaboração de um plano de mobilidade e foi contratado um consultor que está a trabalhar nisso com a equipa de missão. Pediram-nos diversos elementos e facultámos toda a informação. Estão a decorrer reuniões e contactos, mas ainda não temos conhecimento do plano”, disse Pedro Bogas, que garante que a Carris já tratou de ter a sua disponibilidade máxima para a primeira semana de agosto, altura do ano em que costuma estar na capacidade minima.
“Esperamos que venha a ser rápido, mas essa tarefa ficou do lado do governo. Do nosso, o que nos esforçámos logo por garantir foi a máxima capacidade de oferta nessa altura - que é precisamente quando tradicionalmente temos a mínima oferta. Negociámos um acordo com as organizações sindicais que prevê um abono de penosidade para os trabalhadores, que terão muito mais pressão e terão de ser compensados. O acordo foi celebrado com as cinco estruturas sindicais que representam os trabalhadores da Carris e mereceu o acordo de todos. Estamos seguros quanto à máxima disponibilidade e motivação dos nossos trabalhadores”, garante o presidente da Carris, lamentando, contudo, ainda não saber as verdadeiras necessidades: “O plano vai dar informações importantes. Que zonas da cidade estarão encerradas e em que dias e períodos, por exemplo - isso tem impacto nas nossas carreiras porque obriga a desvio de percursos -, perceber se temos de fazer serviços especiais... só com o plano podemos perceber que oferta disponibilizar.”
Para já, está negociado um acordo que garante mais 10 euros por hora aos motoristas da Carris. Um pagamento que Pedro Bogas enquadra no esforço da Carris para melhorar as condições de vida dos trabalhadores: “Serão mais bem remunerados: o valor hora acresce 10 euros, nesses seis dias. Foi uma solução bem recebida. Nós temos apostado muito nas pessoas - demos o maior aumento de que há memória na Carris (a expressão é de um dos dirigentes sindicais) no ano muito difícil que foi 2022, em que as pessoas estavam a sentir dificuldades e estávamos a perder trabalhadores, porque hoje há mais dificuldades de recrutamento e de fidelização à empresa. Dentro das nossas capacidades e recursos, melhorámos significativamente as condições dos nossos trabalhadores e assinámos acordo com quatro das cinco organizações sindicais - e a que não assinou continua em negociações e temos expectativas de também aí chegar a acordo.”
Apesar de ainda não haver plano de mobilidade e também ainda não haver alojamento suficiente para os números esperados de peregrinos, o bispo Américo Aguiar acredita que tudo se vai resolver. Mesmo com possíveis greves, paralisações e outras formas de luta anunciadas para a primeira semana de agosto, o bispo auxiliar de Lisboa até diz que seria "excelente, magnífico" se alguma das reivindicações for atendida.
O prelado diz entender que, atendendo à visibilidade do acontecimento", se anunciam formas de luta, mas diz acreditar "nos portugueses e nos trabalhadores portugueses e naquilo que significa o equilíbrio e o bom senso de todos e de cada um". E até relata, sem muitos pormenores, que em encontros "com alguns setores", às vezes dizem-lhe: "Oh senhor bispo, não se preocupe que tudo vai ser feito. Agora vai haver algum ruído (...), mas não se preocupe que tudo o que tem que ser feito vai ser feito." E acrescenta: “Se chegarmos ao fim da jornada e alguns possam dizer que, em razão da jornada, melhoraram também as suas condições de trabalho e remuneração, de logística, é excelente, magnífico.”
Nos próximos dois meses, e até à abertura do encontro com o Papa Francisco em Lisboa, que pode mobilizar mais de um milhão de pessoas, prometeu fazer tudo para envolver, "colocar as pessoas no processo" da jornada e convencê-las que são respeitadas. "A Jornada Mundial da Juventude em Lisboa vai criar constrangimentos a toda a gente. É um dos preços. Se eu disser o contrário, estou a mentir e eu não quero mentir", disse o bispo, que explicou o que pretende fazer para minorar os problemas dos lisboetas.
O bispo responsável pela JMJ disse querer "convencer as pessoas" que as respeita: "Vamos fazê-las parte do assunto", para que vivam "os constrangimentos com alguma alegria, porque são parte do assunto." Américo Aguiar explica, com entusiasmo, o que a organização está a preparar para minorar o tal caos. “Se nós não dissermos nada às pessoas e as pessoas no dia 1 [de agosto] forem a sair de casa e não puderem sair de casa, as pessoas vão ficar zangadas. E com razão.” O que é preciso, afirmou, é informá-las, colocá-las "dentro do processo e elas saberem que daqui a dois meses a rua do seu bairro vai estar bloqueada, que só devem entrar e sair os moradores".
"Não convidem a família toda para vir cá tomar chá nessa semana. Não tenham atividades que não sejam estritamente necessárias", exemplifica, em tom de pedido. "Nós estamos a preparar os jovens e os programas dos jovens para que eles não tenham de usar os transportes públicos em hora de ponta para não criar um suplemento de preocupação. Portanto, nós estamos a trabalhar para diminuir ao máximo os constrangimentos, mas eles serão a marca em qualquer em Jornada Mundial da Juventude", conclui.